Tecnologia portuguesa consegue “ver” o interior de obras de arte

A XpectralTEK desenvolveu uma tecnologia que permite a verificação dos materiais que compõem obras de arte. A ideia é ter maior controlo na conservação e no restauro

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A XpectralTEK está incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC)

Uma startup portuguesa desenvolveu uma tecnologia para obter informações sobre o interior das obras de arte, através da análise multi-espectral, permitindo verificar os materiais que as compõem e ter um maior controlo ao nível da conservação e restauro.

A análise multi-espectral "explora as características que os materiais possuem em reflectir, absorver e emitir radiação electromagnética, que dependem da composição e forma molecular", indicou à Lusa António Cardoso, director executivo da startup XpectralTEK, sediada em Braga e incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).

"Sabendo que cada substância possui uma reflectância ou fluorescência típica, como se de um bilhete de identidade se tratasse, torna-se possível obter informação sobre as obras que, à vista desarmada, não seria possível", explicou. Com esta tecnologia, segundo o responsável, os utilizadores conseguem antecipar consideravelmente os danos e a evolução das reacções químicas que qualquer superfície está a sofrer — muito antes de isso se tornar visível —, caracterizar os materiais e identificar as substâncias invisíveis.

A análise multi-espectral ao património cultural possibilita a actuação na fase de diagnóstico, com a localização, leitura e análise da informação escondida, onde se consegue perceber o que está por detrás da pintura, quantificar as vezes que o quadro já foi pintado, bem como os vários materiais utilizados. Durante as intervenções de conservação e restauro das superfícies, possibilita ainda a classificação e o mapeamento dos pigmentos e substâncias, visíveis ou não, o controlo dos processos de limpeza e a identificação da compatibilidade dos materiais. Já na monitorização, através da realização de várias leituras espectrais em tempos diferentes, esta tecnologia permite detectar e prever as alterações que possam levar à degradação das obras, bem como a evolução de qualquer superfície, ao longo do tempo.

Actualmente, "há um investimento considerável ao nível de museus em todo o mundo e uma das áreas mais investidas está relacionada com a substituição da iluminação desses espaços para sistemas LED". "No entanto, temos vindo a descobrir que esse sistema danifica bastante os pigmentos", indicou António Cardoso. Esta tecnologia de diagnóstico, não invasiva e não destrutiva, pode também ser aplicada nas áreas da agricultura e da indústria, principalmente na qualidade de controlo. "Na área da agricultura, basicamente conseguimos falar com as plantas", disse o director executivo, referindo que a tecnologia consegue actuar nas questões relacionadas com a hidratação, com os nutrientes necessários para a planta crescer de forma saudável e com as infestações. Na indústria, a tecnologia é utilizada nas áreas farmacêutica e automóvel. "Até agora, havia muitos processos controlados pelo humano, mas também muitas falhas e, com esta tecnologia, conseguimos substituir isso por sistemas inteligentes", acrescentou.

A tecnologia nasceu no laboratório de gestão e conservação na área de diagnóstico não invasivo da empresa Signinum —Gestão de Património Cultural, que criou a XpectralTEK, dedicada à criação de soluções de visão artificial com base em imagem multi-espectral.

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