O “lesbian chic” de “A Letra L” está de regresso à televisão

Um reboot da série emitida entre 2004 e 2009 estará a ser trabalhado pelo Showtime. Jennifer Beal, Kate Moennig e Leisha Hailey retomam as suas personagens e são produtoras executivas

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A Letra L foi para o ar pela primeira vez em 2004 e revolucionou por completo o panorama televisivo norte-americano (e mundial) ao contar de forma arrojada a história de um grupo de amigas lésbicas residentes na zona mais trendy de Los Angeles. Esta terça-feira, a revista Variety avançou que o Showtime estará a desenvolver um reboot da série que falava dos amores e desamores de Bette (Jennifer Beals), Alice (Leisha Hailey) e Shane (Kate Moennig). A ser dada luz verde, a sequela partirá do original para focar as vidas de um novo grupo de mulheres com as suas próprias paixões e atribulações. No entanto, o elenco original estará presente na história para que se estabeleça um ponto de ligação com o novo enredo e estará envolvido na produção da série.

O Showtime recusou comentar a oficialização do reboot, mas algumas estrelas da série e a criadora Ilene Chaiken haviam tweetado vagamente em Junho sobre um possível retorno da trama, que acabou por ser apenas uma sessão fotográfica do elenco para a Entertainment Weekly (EW). “Falamos [de voltar] a toda a hora”, disse Chaiken à EW. “Quando saímos do ar em 2009, muita gente pensou ‘Ok, já passámos o testemunho, e a partir de agora haverá muitas séries a retratar a vida lésbica. Não há grande coisa. Parece que talvez [a série] devesse voltar”. Ilene Chaiken será produtora executiva na sequela, mas mantém o cargo de showrunner em Empire e de produtora executiva em Handmaid’s Tale.

A ideia para o reboot terá partido mesmo da criadora do original. Embora sempre tenha assumido a sua identidade como parte da comunidade lésbica, o seu papel menor no revival levou a que o canal precisasse de procurar um novo showrunner que “tenha especificamente ligações directas à comunidade lésbica de modo a trazer uma nova perspectiva à trama, documentando as relações e as experiências do presente e tudo o que mudou ou não desde que a série foi para o ar pela primeira vez.”

Durante seis temporadas, A Letra L abriu precedentes para uma maior representatividade da comunidade queer na televisão através do glamour e sofisticação de três mulheres (e das suas amigas) que, entre os restaurantes e inaugurações que frequentavam, se viam envolvidas em paixões tumultuosas e cenas de sexo escaldantes. "Queria escrever uma série sobre as vidas das mulheres que eu conheço em Los Angeles", descreveu à Reuters Ilene Chaiken, na altura em que a série estreou nos EUA.

Depois de Queer as Folk (1999-2000) agitar as águas do meio televisivo com várias personagens gay e muitas cenas de sexo, A Letra L foi a definitiva marca do Showtime no território LGBTQ e não demorou a reunir a crítica em seu torno. “A qualidade da escrita e da representação relegam as cenas de sexo, por muito escaldantes que essas possam ser, para um estatuto de papel secundário”, escreveu então o San Francisco Chronicle.

Além de ser pioneira no espaço que deu às mulheres queerna televisão e na indústria do entretenimento, A Letra Ltambém foi elogiada pela maioria feminina do seu elenco, com 13 actrizes que constituíam parte da equipa principal. Outras séries encabeçadas por mulheres, como Donas de Casa Desesperadas ou Anatomia de Grey, normalmente eram contrabalançadas pelos seus pares masculinos.

A série que ficou reconhecida por dar destaque a personagens lésbicas foi nomeada para um Emmy e ganhou dois GLAAD Media Awards. A presidente e CEO desta organização LGBT, a GLAAD, Sarah Kate Ellis, afirmou à Variety que “nos últimos anos as personagens de mulheres lésbicas e queer têm sido mortas em grandes números nas séries de televisão”. Ellis expressou o seu contentamento pelo regresso de A Letra L ao pequeno ecrã, “onde pode contar histórias bonitas, interessantes e diferentes sobre uma comunidade maioritariamente pouco representada”. Em Portugal, a série estreou-se na RTP2 em 2006.

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