Nem sei que te diga, Verão

A fasquia intelectual para frequentar praias este ano está ora muito baixinha, ora ridiculamente elevada

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O povo nas praias é caricato. E não falo da malta que insiste em levar para o areal três tachos de cozido e uma feijoadazinha para matar a larica. Nem da que passa o tempo a advertir cachopos sempre à beira de tomber.

Há talento produzido, criado e maturado dentro de fronteiras que compete com o mais apurado emigra.

O nome dela era Bánessa. Pelo menos foi assim que, intuitivamente, a designei. De roda dela estava uma criança a mostrar uma estridente inquietação há coisa de tempo a mais. Para terminar com a birra medonha, Bánessa presenteou toda a praia com a cena de bullying parental ignorante mais comovedora a que já assisti.

Bánessa: "Mas o que é que tu queres?"

Filha/vítima: "A máquina tugárfica."

Bánessa: "Queres o quê?!"

Filha/vítima: "A máquina tugárfica!"

Bánessa: "Ai que a minha filha é tão estrábica."

Ri-me. Tive de me rir. O estrabismo semântico faz-me cócegas. E alguma dislexia visual. Só que, do alto da minha sobranceria estival, perdi a noção da minha própria burrice quando, de repente, intercepto uma conversa entre dois irmãos.

Irmão normal: "Não vais à água?"

Irmão erudito: "Não vejo necessidade."

Irmão normal: "Mas és um homem ou um rato?"

Irmão erudito: "Importas-te de parar com esses aforismos pseudo-masculinizantes?"

A fasquia intelectual para frequentar praias este ano está ora muito baixinha, ora ridiculamente elevada. Decide-te, verão. tenho de perceber se me devo atirar a tudo o que é revista cor-de-rosa ou se me dedico a um Dostoyevskyzinho.

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