A maioria das pessoas que decidem viver longe do quotidiano tendem a ser afectadas pelo que chamo de "Complexo de Napoleão", sendo este complexo uma força vital para que se levantem na vida, para que sigam em frente, apesar de essencialmente serem pessoas sem muito poder. Esse sentimento de inferioridade, esse medo da morte e de não conseguir alcançar grandes feitos em vida leva-as a terem complexos de grandeza e, afinal de contas, foi Napoleão que trouxe para a luz da condição humana o poder do ego. Mas afinal de contas, esta figura história tem ainda grande poder sobre as pessoas de hoje em dia, pois estas têm a mesma "mente" que Napoleão, ou seja a mesma predisposição a desejos de grandeza (tudo baseado no sentimento de inferioridade). Estes são os pensamentos de uma pessoa que sofre deste complexo:

— De gente fraca não reza a história… E eu estou disposto a levantar uma nova ordem pelo mundo, uma ordem onde existe igualdade e justiça para todos os seres humanos. Eu sou só um vaso dos planos divinos… Pois como há que parar um Deus, se Deus é que controla a morte e vida? As pessoas, a maioria delas são demasiado fracas e vivem o seu dia-a-dia sem poder, sem glória, apenas com medo da morte. Mas a morte não é nada… Viver sem glória e sem poder: isso sim é a verdadeira morte. A vida não passa de um jogo de xadrez, em que jogadas após jogada fazem do oponente mais forte ou mais fraco.

— Eu não me contento com o mundano, eu quero o meu nome escrito nas estrelas, glorificado para sempre no céu nocturno. Uma eterna fonte de inspiração para as pessoas, um ícone a seguir. Pois que são as pessoas sem ambição? A ambição é o que move o homem… Um homem sem ambição não é jamais homem, nem rato nem insecto nem fantasma. Eu serei a válvula desse insecto, eu treparei as montanhas mais altas do planeta e gritarei de lá o meu nome, pois eu sou uma montanha. Eu tive um sonho que mais ninguém teve, então larguei coisas triviais e deixa-as lá. Eu dei um passo de fé em direcção ao futuro, eu domei o que era aleatório e fruto da sorte, eu domestiquei a sorte e cavalguei nela como se fosse um cavalo… Eu criei uma nova ordem! Pois não é preciso um homem dar um passo de fé para o seu destino? Não é preciso um homem tomar em conta que todas as possibilidades estão a seu favor? O impossível é algo que não existe… E que o que outrora fora considerado impossível é hoje possível e atingível. Porém, a maioria das pessoas são conformistas, meros zeros, que acreditam que se satisfazerem as suas necessidades básicas estarão safas da morte. Mas o que é a morte se não for possível em vida pisar o risco entre o "comum" e o "imortal".

— Pois foi sangue que me parou? Não, sangue me continuou neste luta de ideias, foi o sangue que não me fez parar e só pararei quando morrer. Mas a morte não existe para pessoas como eu, eu venci-a, eu domei-a, eu conquistei-a; a morte só existe para os fracos de mente e de coração. Eu consegui o impossível: erguer uma nova ordem, mas todos os homens, incluindo eu, somos motivados por auto-interesse: eu apenas o fiz pois sabia que estava a tornar-me imortal, maior que a vida, uma lenda.

— Quem tem uma mente tem tudo, é possível domar as probabilidades a nosso favor, é possível encontrar ordem no caos, morte na vida e vida na morte. Só os idiotas é que não o conseguem. A maioria das pessoas estão demasiado ocupadas com trivialidades para superar a barreira do mundano. O mundano é aquilo que alimenta as pessoas, nomeadamente para que seja preenchido o vazio da sua existência. A religião é só a sua válvula de escape quando se começam os excessos. A religião é uma artimanha perfeita. É a religião que impede os pobres de matarem os ricos, o engodo da vida, a supremacia moral. Pois que moral tem o homem hoje em dia? Tu deixas-me penetrar-te… é essa a moral do homem. Pobre do homem, ser em constante agonia que se aspira ser livre um dia. É a glória, é nos passos do triunfo que o homem encontra o que quer ser e o que está ao seu alcance. Tudo na vida diz que os planos correrão bem, mas a rainha Hécuba, dona da vida, mexe os fios, trazendo complicações às mentes humanas. Mas quando se tem uma mente clara, pois quando se vê num mundo de cegos, sabe-se que o fim chegará e que depois desse fim virá a imortalidade, a imortalidade terrestre. Ou seja, que nesta vida te erguerão monumentos, que te lançarão canções, que terás o nome na literatura e que sobre o teu túmulo as pessoas chorarão. Tudo graças ao poder da mente, ao poder de acreditar no momento e de dar um passo em frente com os olhos vendados, apesar de na realidade saberes o que se passa à tua volta, que o invisível não passa de uma mera quimera.

— Braços bem abertos, eu mantenho-me só. O caminho do sucesso é um caminho solitário, coisa que as maiorias das pessoas não estão acostumadas. Tu constróis a tua própria realidade com os teus pensamentos, tu és o Michelangelo a esculpir o seu David e fá-lo isso à vossa vida com os vossos pensamentos. A vida é pois um jogo de xadrez mental, manobras e contra-manobras. É preciso antecipar-se o movimento do inimigo e de não o parar caso esteja a cometer um erro. Errar é humano, mas para se atingir o estatuto de Deus terreno é preciso ser-se perfeito! A perfeição vem dos pensamentos perfeitos, a derradeira satisfação. A vida tem tudo para nos dar, só temos que nos aproveitar da corrente de vento certa que nos guiará ao nosso destino. Não, sangue não me parou, eu estou disposto a cumprir injustiças em nome da justiça. Criminoso? Também não o sou. Grandes homens ultrapassam o estatuto de criminoso em pol de um Deus. Um Deus não é um criminoso mas uma força vital da natureza, algo incontestável, algo divino, algo que existirá sempre e que sempre estará lá para as pessoas. Pelo menos as suas pessoas. Eu sou um Deus, o meu poder é destruir todos aqueles que abafam os novos ideais do iluminismo na terra, aqueles que ainda acreditam que não existe igualdade de oportunidades, mas este império, esta mesma terra que pisais é a força de vontade de Deus, pois tudo ocorre para um bem maior, o bem que o mundo ficará mais justo, sem corrupção e um dia, possivelmente, sem injustiças. Toda a gota de sangue derramada foi ápice de um momento de vitória, foi um mal para um bem maior. Escolher o lado onde se nasce – ninguém disso tem culpa, mas escolher de que lado se quer estar na batalha – para isso toda a gente tem livre-arbítrio. Que estes ideais durem para além de mim por muitos anos, por milhares de anos, que vivam pelo mundo inteiro, não, pelo Universo!

— O que torna um homem especial é a sua habilidade em ver o que os outros não conseguem e ser capaz de tirar partido do caos e usá-lo a seu favor. Um trono vazio sempre me tenta, pois um trono vazio é uma possibilidade, uma fracção de poder. Pois quê, eu não gosto de poder? O poder é o que leva os homens à luta, é por sentimentos de fragilidade que o frágil quer ser forte – poder é aquilo que leva os homens a querer ser ícones dos livros de história. É através da pena do "Poder" que se reescreve toda a história, que se faz de si uma lenda, que se obtém o nome nas estrelas – é pois com poder que se sacia a fome da fraqueza, a fome do «eu não sou ninguém» até passar-se a ser alguém, um mito, uma narrativa. Todos aplaudem-me, todos se curvam perante mim. O ser humano é uma criatura fraca e precisa de um líder, um líder que o leve à fé. Se não porque teria vindo Jesus Cristo à terra?! Eu sou esse líder, eu sou o capitão da minha alma. Ninguém tem poder sobre mim porque eu sou o poder, o poder do Universo a manifestar-se à escala humana.

— Basta saber a base da vida para compreender para onde ela vai. Não é preciso perder muito tempo a fantasiar sobre os seus mistérios, que a acção não tarda, a acção de que um dia se compre o que se foi programado e que se atinja o topo do pedestal. Braços bem abertos, amigos, pois não saudeis vós o vosso imperados que vos levará à vitória? Com as bases da vida e a conexão com a mente Universal de cada um, ou seja, com a informação que trazemos antes sequer de nascermos, é possível conquistar o mundo, se ouvir-se com atenção os sinais da intuição.