Entre a nós e a Síria, um documentário sem fronteiras

"Síria à distância de um tiro", de Tiago Ferreira e Rui Araújo, são 29 minutos a despertar consciências. "E nós, o que podemos fazer para os ajudar?"

Tiago Ferreira sempre viu o audiovisual como uma forma de contar histórias, diz ao P3
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Tiago Ferreira sempre viu o audiovisual como uma forma de contar histórias, diz ao P3
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O projecto Qara - Handmande Syria apoia, actualmente, 35 famílias
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O projecto Qara - Handmande Syria apoia, actualmente, 35 famílias

Uma viagem ao inferno da Síria. É nestes termos que o repórter de imagem da TVI, Tiago Ferreira, 39 anos, começa por introduzir o documentário Síria à distância de um tiro. Realizado em conjunto com Rui Araújo, jornalista, em Janeiro último, foi projectado este sábado, 6 de Maio, na Casa das Associações do Porto, a convite do Refugees Welcome, no âmbito da Semana Europeia da Juventude.

Este road movie de 29 minutos começa a Sul, passa por Damasco, Homs, Aleppo. Um atrevimento sem a aprovação do Governo sírio que resultou numa captação de imagens sem filtros de um país esventrado, três semanas de filmagens. Está ali quase tudo; está ali demais, mais do que gostaríamos de ter visto.

A Síria é atravessada por oleodutos e gasodutos disputados pelas grandes potências mundiais. São canais que vêm de países como Qatar, Irão, Arábia Saudita e Bahrein e chegam à Turquia para abastecer a Europa. Esta emaranhada teia de interesses em torno dos negócios do petróleo e gás natural tem sido apontada como uma das razões do conflito que tem devastado o país nos últimos cinco anos. Mais de 400 mil mortos, oito milhões de deslocados, 4,8 milhões de refugiados — números dramáticos e que nos dizem respeito.

Os refugiados que chegam à Europa são uma minoria, uma espécie de classe média no seio da miserabilidade. Os outros — porque não conseguem sair, pagar, ter ajuda — ficam. Os outros são os que vemos ali em alvoroço por um caixote de enlatados que lhes dá para 10 ou 15 dias. Nove em cada dez sírios vivem abaixo do limiar da pobreza, segundo os dados mais recentes da ONU.

"E nós, o que podemos fazer para os ajudar?”, pergunta alguém entre as mais de 30 pessoas da assistência, assim que o documentário termina. “Não podemos ir para lá, mas há pequenas coisas que fazem a diferença”, respondem. “O problema é que queremos fazer coisas com um impacto tão grande que acabamos por não fazer nenhuma. Nem as pequenas, nem as grandes”.

A integração dos refugiados — integrar e não apenas receber — e a adopção de hábitos de vida e consumo conscientes são alguns dos aspectos que geram consenso no debate. Apoiar o projecto Qara, comprando peças de crochet feitas por mulheres muçulmanas, uma iniciativa de Natacha Lopes, companheira de Tiago, é outra forma de ajudar directamente 35 famílias sírias.

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