Eleições municipais chegam à Tunísia pela primeira vez desde a Primavera Árabe

Os tunisinos foram às urnas eleger os seus representantes locais. Apesar desta nova etapa no caminho da democratização, país continua ensombrado pelos problemas económicos e pela ameaça terrorista.

Relatos que chegam da Tunísia, e previsões dos observadores, apontam para uma elevada abstenção
Fotogaleria
Relatos que chegam da Tunísia, e previsões dos observadores, apontam para uma elevada abstenção LUSA/MOHAMED MESSARA
Fotogaleria
LUSA/MOHAMED MESSARA
Eleiçoes marcadas por fortes medidas de segurança
Fotogaleria
Eleiçoes marcadas por fortes medidas de segurança LUSA/MOHAMED MESSARA

Os tunisinos votaram neste domingo numas eleições municipais pela primeira vez a queda do Presidente Zine El Abidine Ben Ali, no início de 2011, na sequência da chamada Primavera Árabe. Apesar de ser apontado como o melhor exemplo de democratização saído desta onda de revoltas que se espalhou pelo Magrebe e Norte de África, a Tunísia vive ainda ensombrada pelos problemas económicos e pela ameaça terrorista.

“Este domingo não vai ser como os outros dias. Pela primeira vez, os tunisinos são chamados a participar numas eleições municipais, algo que parece simples mas que é muito importante”, disse o actual Presidente, Caid Essebsi, citado pela Al Jazira.

Essebsi previu ainda uma afluência às urnas em massa, mas os relatos que chegam da Tunísia, e as previsões dos observadores, apontam para uma elevada abstenção. A Reuters relata, por exemplo, que na capital, Tunis, durante a manhã, as poucas pessoas que apareceram para votar eram sobretudo as mais velhas.

Desde a queda de Ben Ali a Tunísia já realizou eleições presidenciais e parlamentares. Porém, as locais foram adiadas por quatro vezes, devido a dificuldades na organização logística e política. Para o próximo ano estão marcadas novas presidenciais e legislativas.

Os resultados só deverão ser conhecidos nos próximos dias, mas espera-se que os partidos Nidaa Tounès e o Ennahda (partido islamita que se tornou secularizado), que lideram o Governo em coligação, dominem a votação nos 350 municípios, para os quais existem mais de 57 mil candidatos.

“Eu quero um emprego”, disse à Reuters um dos jovens, chamado Ramzi, que foi votar. “Ninguém se preocupou connosco nos últimos anos e nós sofremos por causa do desemprego”.

As críticas deste eleitor tocam num dos pontos que maior insatisfação e instabilidade tem criado na Tunísia nos últimos tempos. Em Janeiro realizaram-se uma série de manifestações contra a política económica do Governo, que deu azo a uma subida generalizada dos preços sem que tenham sido encontradas soluções para aumentar os rendimentos das pessoas. Algumas destas acções de protesto geraram confrontos que levaram à detenção de centenas de manifestantes.

A Tunísia foi o berço da Primavera Árabe e foi também o país que melhor conseguiu iniciar o caminho em direcção à democracia. Contudo, os problemas económicos e também a ameaça terrorista - é o país de origem de muitos dos militantes do Daesh, fez com que milhares de tunisinos tenham saído para a Europa.

A vaga de atentados em 2015 – entre os quais o tiroteio num resort em Sousse que vitimou 39 pessoas – fez com que a Tunísia permaneça até hoje em estado de emergência. Essa é uma das razões que levou à forte mobilização policial para as eleições, tendo sido destacados para o efeito cerca de 60 mil polícias e militares.

Estes ataques terroristas afectaram também de forma profunda o sector do turismo, a jóia da coroa da economia tunisina.

Apesar de todos os problemas que a sociedade tunisina enfrenta actualmente há quem veja nestas eleições municipais uma oportunidade para os cidadãos colaborarem activamente na melhoria dos serviços públicos locais.

É isso que refere Salma Douri, de Ben Arous, cidade que tem registado problemas com a segurança rodoviária. “Todos os anos morrem aqui pessoas em acidentes de viação”, disse à Reuters, acrescentando que pretende recolher fundos públicos para iniciar uma campanha de sensibilização para os perigos da estrada.

Sugerir correcção
Comentar