Tiago Pedras encontrou uma forma diferente de ensinar

Tiago Pedras, natural de Barcelos, brincava com Lego e cresceu a explorar computadores. Aos 32 anos fundou a The New Digital School, uma escola sem programa, professores e sistema de avaliação

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Tiago Pedras fundou uma escola que pretende quebrar o paradigma do ensino tradicional em Portugal (Fernando Veludo/nFactos)

Quando a média final de secundário não foi suficiente para entrar no curso de Arquitectura, Tiago Pedras ponderou arriscar um percurso numa área que desconhecia: o design. Já no momento da matrícula na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, apercebeu-se que “não queria ficar” a três horas de distância da cidade onde nasceu. O jovem de Barcelos, agora com 32 anos, disse aos pais que preferia fazer melhoria de notas e ingressar, mais tarde, no ensino superior enquanto descobria o que realmente gostaria de fazer. Pelo caminho, aprendeu a trabalhar com vídeo e explorou o design gráfico no meio de uma campanha eleitoral para a associação de estudantes da secundária que frequentava. O webdesigner e professor é também o fundador da The New Digital School, uma escola que pretende quebrar o paradigma do ensino tradicional em Portugal.  

Foi precisamente quando soube por uma amiga da tia que existia a Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos, no ano anterior à nova matrícula no ensino superior, que Tiago começou a interessar-se por Artes Digitais e Multimédia. “Pensei que era muito mais a minha cara e tinha a ver com as coisas loucas que fiz no secundário”, conta em entrevista ao P3. Seguiu o que o instinto lhe disse e, em 2003, começou a frequentar o primeiro de quatro anos de curso no qual conseguiu, devido à experiência que tinha adquirido na área, “estar à frente do resto dos colegas”. Até que, antes de iniciar o último ano, recebeu um convite inesperado – queriam contratá-lo para ser professor na ESAD.  

Do design para o ensino

Os receios estavam presentes na cabeça de um jovem de 22 anos. Tiago “nunca tinha pensado dar aulas” e ensinar aquilo que tinha aprendido não parecia uma tarefa fácil. Aceitar o desafio de “ser professor e aluno ao mesmo tempo”, enquanto ainda desempenhava as funções de delegado de turma, não significa que ia desistir de “uma carreira de freelancer”. Na Foz do Porto, instalou um gabinete próprio e criou a marca TPWD com as iniciais de “Tiago Pedras WebDesign”. O estúdio durou até 2013, ano em que se transformou na filial digital da agência Surreal Creative, com sede no Reino Unido. Hoje concilia a empresa de design e as aulas, o que lhe permite estar atento ao que acontece na área e “recrutar os melhores alunos” para o mercado.  

O design é, sem surpresas, a denominador comum dos projectos em que se envolve. Hoje, ao relembrar as brincadeiras de miúdo, acredita que a vontade de “pegar na câmara de filmar” e as invenções com Lego, juntamente com a descoberta dos computadores, foram determinantes para olhar para o design com outros olhos. É essa paixão que tenta transmitir aos estudantes durante as aulas e uma das razões para “tentar encontrar um formato diferente para ensinar”. “Há cerca de quatro anos que andava a procurar um método mais eficaz em termos de aprendizagem e que criasse um maior envolvimento por parte dos alunos”.  

Foi uma viagem de intercâmbio de professores com uma escola na Áustria que o inspirou a aplicar “um novo sistema de motivação” e, acima de tudo, a “dar uma noção aos alunos de que os projectos que fazem são reais, não são simplesmente projectos de escola”. Em conversa com uma professora que leccionava design de jogos, Tiago conheceu a idealizadora da ideia que viria, mais tarde, a reproduzir na ESAD. Em cada aula, a austríaca ensinava a matéria com recurso a um jogo. O objectivo era depois levar “os alunos a organizarem-se em equipas e apresentarem ideias para jogos”, dentro de uma competição com regras e direito a prémio. A melhor ideia ganhava o Golden Pineapple Award – nada mais do que um ananás pintado com spray dourado – no final de uma gala de apresentação dos projectos. “Ela queria criar uma série de circunstâncias que, por um lado, motivasse os alunos e os pusesse a pensar na ideia para o mercado de trabalho mas, por outro lado, queria que eles não sentissem que era uma sala de aula e uma simples brincadeira”, explica.  

A pensar que “seria fantástico” adaptar a ideia a uma escola portuguesa não hesitou e criou o The Golden Coconut Award, um coco dourado entregue todos os anos numa gala. “A ideia é exactamente a mesma e tem funcionado muito bem, só no ano passado quatro pessoas foram contratadas para estágios e empregos no fim da gala. Isso para mim é uma vitória”.

Tiago não ficou por aqui. A experiência de professor dizia-lhe que os alunos precisavam de mais motivação para aprender e uma maior atenção às suas capacidades individuais. Foi a pensar numa metodologia de ensino diferente que surgiu a ideia de criar uma nova escola de design digital. Longe do sistema tradicional português, o projecto foca-se no aluno e foge a todos os padrões. Sem programa, professores, sistema de avaliação e um calendário escolar “comum”.

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