LX80: há trinta anos, era assim

Com o mesmo punho firme e mestre com que esculpiu os antecessores LX60 e LX70, Joana Stichini Vilela está de regresso com LX80. Uma viagem pela capital

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Numa tarde de inverno, o Nuno Markl disse-me, a propósito da saudosa Caderneta de Cromos, que “não há nada mais manipulador que a nostalgia”. Era, aliás, disso mesmo que vivia a sua rubrica matinal na Rádio Comercial: recordar material que fez a década de 80 (e não só). Não é de espantar que tenha sido o humorista a apresentar o livro LX80, recentemente publicado.

Com o mesmo punho firme e mestre com que esculpiu os antecessores LX60 e LX70, Joana Stichini Vilela está de regresso com LX80. Li-os a todos e nasci nos anos 80, portanto sinto-me no direito de afirmar que está aqui o livro mais importante sobre a mais importante década lisboeta do século XX, culturalmente falando.

Stichini Vilela consegue, mais uma vez, o feito de, a cada página que viramos, provocar-nos um “ah, pois foi!” que se nos escapa boca fora, em voz alta, para susto dos que nos circundam. Ficamos de semblante escancarado por saber (recordar?) que o ordenado mínimo era de 7500$00 – o equivalente a 37,5€ -, por lembrar a década de ouro de Paulo Futre, por sabermos de modo conciso mas esclarecedor o que foi o caso Dona Branca, por descobrir que em 1985 havia apenas seis (seis!) cartões multibanco por cem habitantes lisboetas.

Isto para não falar, claro, dos grafismos. Com um estilo muito próprio, sempre sem comprometer a informação, mas suficientemente arejado para não se tornar enfadonho. É por causa de livros assim que sou bibliófilo extremista.

A História é boa precisamente para isto: para percebermos como viviam os nossos concidadãos antepassados, de maneira a que com eles aprendamos lições, que não repitamos erros ou tomemos os seus bons exemplos. No entanto, não existe disponível tanta História recente como seria desejável, e Stichini Vilela consegue espremer dez anos em 300 páginas de forma invejável. Falta-nos olhar com mais atenção para os ontens e os anteontens, ao invés de estarmos tão agarrados a eventos que, infelizmente, adquiriram a leveza (leviandade, até) de um cliché, como a Segunda Guerra Mundial ou o terramoto de 1755.

Posto isto, e visto que sou um gaiato que nasceu já na segunda metade da década de 80, aguardo com ansiedade pela chegada do LX90, sobre os anos em que verdadeiramente cresci. Será, com certeza, e a crer nos seus antecessores, uma obra-prima a não perder. Mais uma.

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