Jovens de Vila Real dão nova vida a barro negro candidato à Unesco

Daniel Pera e Renato Rio Costa criaram o projecto Bisarro e em Dezembro é lançada uma colecção de louça de barro negro, com 15 peças utilitárias. A olaria negra de Bisalhães, em Vila Real, é candidata a Património Cultural Imaterial da UNESCO

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Daniel Pera e Renato Rio Costa, criadores do projecto Bisarro DR

Dois jovens empreendedores criaram uma colecção de louça de barro negro para dar um novo fôlego à olaria de Bisalhães, que o município de Vila Real quer candidatar a Património Mundial. "Dinamizar esta arte de Bisalhães, que está em vias de extinção, é a nossa principal preocupação", afirmou Daniel Pera, de 31 anos, e um dos co-fundadores da empresa Bisarro.

Daniel juntou-se a Renato Rio Costa, de 26 anos, neste projecto que quer dar um toque de modernidade à ancestral olaria negra da aldeia. Para o efeito, a Bisarro lança em Dezembro uma colecção de louça de barro negro, com 15 peças utilitárias de um "design inovador", desde taças, jarros, bules e cafeteiras até chávenas de chá e de café, açucareiros ou castiçais. As peças foram pensadas para um mercado exigente e que, segundo Daniel Pera, procura "cada vez mais produtos exclusivos" sem "perder a génese da produção".

O trabalho do oleiro começa com o barro em bruto, que é preciso picar e amassar. Passa depois para a roda, onde nascem as peças que são cozidas numa cova escavada no chão, aquecida com lenha dos montes (caruma, carquejas ou giestas) e abafada com terra. É esta forma de cozer o barro a responsável pela cor negra que caracteriza a ancestral olaria de Bisalhães e que o município de Vila Real está a candidatar a Património Cultural Imaterial da UNESCO. "Há muitos oleiros que trabalham na roda, mas a parte da cozedura — o foco da candidatura — é o que torna as peças de Bisalhães tão únicas e especiais", salientou Renato Rio Costa.

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O troféu oficial do Circuito Internacional de Vila Real foi criado em barro negro pelos jovens designers DR

Por Bisalhães, os oleiros são já poucos e, na sua maioria, idosos. Esta foi uma dificuldade da iniciativa, ultrapassada com o aparecimento do projecto DouroUp, de um novo oleiro, Manuel Tapada, responsável pela produção. Os jovens acreditam que a nova colecção "vai ser um ponto de viragem na olaria de Bisalhães".

A primeira colecção da Bisarro é de peças utilitárias, mas os jovens estão já a estudar novas soluções e propostas que passam também pelos sectores da hotelaria, pela decoração e pelo segmento vínico, tendo já sido convidados a desenvolver peças para acompanhar as provas de vinhos. A aposta passa igualmente pela conjugação do barro negro com outros materiais, como a cortiça ou a madeira, e em curso estão testes para vidrar o barro.

"Mais do que um negócio é cultura, tradição, são as raízes de Vila Real. É essa a nossa motivação. O mercado procura cada vez mais estas soluções, estes projectos mais pequenos, produtos mais exclusivos e nós estamos a aproveitar esta oportunidade", frisou Daniel Pera.

A marca começou por ser um projecto de ilustração pensado por Renato Rio Costa, no âmbito do seu mestrado. Os dois designers encontraram-se na SPAL, empresa portuguesa de porcelanas, de onde saíram para criar a própria empresa. Ambos criaram, também em barro negro, o troféu oficial do Circuito Internacional de Vila Real, onde se inclui uma prova do Campeonato do Mundo de Carros de Turismo (WTCC).

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