Ana Barros fotografa mulheres que “mandam” em países de homens

Elas são empresárias de sucesso onde os negócios são conversa de homens e a ajuda de um programa das Nações Unidas foi fundamental. A portuguesa Ana Sampaio Barros conta as suas histórias através de fotografias

Esraa Fathy é designer de moda e vive no Cairo, no Egipto Ana Sampaio Barros
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Esraa Fathy é designer de moda e vive no Cairo, no Egipto Ana Sampaio Barros
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Zeina Tahan é libanesa e designer de jóias Ana Sampaio Barros
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Zeina Tahan é libanesa e designer de jóias Ana Sampaio Barros

Viu-a na plateia de uma conferência em Amã, na Jordânia, e sentiu-a “especial”. Katia Al-Tal “tinha um olhar diferente e brilhante”, recorda Ana Sampaio Barros, a portuguesa que colabora com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). Na altura, ainda não sabia que Katia gere uma oficina de cerâmica, na qual emprega outras mulheres, num país onde os negócios são conversa de homem. A história da artista plástica jordana é uma das muitas que a “instagrammer” portuguesa tem vindo a contar no âmbito do programa Focus ON das Nações Unidas: mulheres de negócios que vingam em países onde, a todos os níveis da sociedade, a primazia dos homens é notória.

O objectivo do Focus ON é promover o emprego jovem e o empoderamento feminino e Ana Barros fotografa as mulheres que o programa ajudou a mudar de vida. A viver em Viena, na Áustria, há seis anos, a arquitecta de formação foi convidada para gerir as redes sociais do Focus ON. Com perto de 360.000 seguidores no Instagram, Ana Barros criou os canais online do programa das Nações Unidas e apresentou um projecto no qual as imagens são o mais importante.

“Propusemos fazer a cobertura de algumas histórias: eu fotografo e a Amina Stella Steiner cria o texto em jeito de legenda”, resume ao P3, em entrevista via Skype a partir da capital austríaca. No perfil de Instagram, da responsabilidade da portuguesa, são muitos os rostos — sobretudo de mulheres. As legendas contam parte do seu percurso de vida, mas a história completa pode ser consultada na plataforma Steller.

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Katia Al-Tal tem uma oficina de objectos de cerâmica nos arredores de Amã, na Jordânia Ana Sampaio Barros

De All Stars e vestido pretos, lábios vermelhos e cabelos encaracolados, Katia destaca-se entre os tons de branco e bege da sua oficina. Depois de estudar ciência política e psicologia, a artista plástica viveu em França, no Dubai e em Omã. A escultura esteve sempre presente e quando regressou a Amã decidiu avançar com a criação de uma empresa de cerâmica, a “Nuwa Creations”. “Queria ter os meus próprios rendimentos de forma independente”, contou a Ana Barros e Amina Steiner, que colabora na agência da primeira, a We Are Better. E o Focus ON acabou por ser uma ferramenta para conhecer projectos de outras mulheres, bem como criar uma rede de contactos.

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Ana Sampaio Barros vive em Viena há seis anos e tem uma agência de comunicação Guilherme da Rosa

“Ser uma mulher empreendedora transformou a minha vida. Antes, vivia o dilema de ser uma artista e não saber como me sustentar financeiramente”, confessou a ceramista. Mas não foi apenas a vida de Katia que mudou: conheceu um grupo de raparigas que fez um curso de cerâmica e convidou-as para estagiarem na oficina. “Percebi que estas raparigas precisam de mim e do trabalho e da segurança que lhes posso oferecer.”

O efeito em cadeia que o projecto de Katia conseguiu alcançar repete-se nos vários países onde a UNIDO está presente, sublinha Ana Barros: Etiópia, Tanzânia, Birmânia, Iraque, Paquistão, Marrocos, Egipto, Tunísia, Líbano, entre outros. “Há mulheres que empregam mais de 50 mulheres nas suas empresas”, relata. A intervenção do Focus ON, contudo, não passa directamente por ajuda financeira. “Nos países onde as mulheres não podem aceder a créditos bancários, a UNIDO pode facilitar este processo”, exemplifica. Feiras de artesanato e conferências internacionais são alguns dos eventos organizados para pôr estas mulheres e os seus negócios no mapa.

O trabalho de Ana Barros — e de Amina Steiner — é partilhar as histórias com finais felizes para que mais pessoas as possam viver: os bordados de Esraa Fathy, as jóias de Zeina Tahan, os produtos lácteos de Emebet Mekonnen ou as peças em pele de Lidia Million. Para isso, as duas jovens viajam para alguns dos países acima mencionados, por vezes sozinhas. No Verão, Ana passou duas semanas a conhecer mulheres no Líbano, na Jordânia, na Tunísia e em Marrocos. “O orçamento não é muito grande, a vontade é muito maior”, brinca. “Foi uma aventura, não é fácil ser rapariga e estar sozinha nestes países.” Os onze relatos que levou para Viena — e as centenas de fotografias que tirou — estão ainda a ser partilhados nas redes sociais e, em breve, vamos também poder ver e ler as histórias que recolheram na Etiópia.

É quando deixa a Europa que a “instagrammer” de 31 anos percebe, de facto, o impacto de um programa como este. “O mérito é 98% delas, das empreendedoras”, afirma. “Só precisavam de ultrapassar as barreiras sociais dos países onde vivem. Têm talento e força de vontade, o produto é óptimo. Precisavam de uma oportunidade.”

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