Ponto Gamedev: jogos, francesinhas e marcação de novos encontros

Todos se conhecem, todos têm histórias em comum, todos matam saudades, todos comparam cicatrizes metafóricas ao mesmo tempo que se actualizam

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The Inner Sea

O Ponto Gamedev é um evento curioso. Já esteve de certa forma agregado ao ISMAI Legends na Maia e este ano procurou a sua independência. Embora decorra ao mesmo tempo que o grande torneiro de e-Sports, é na verdade desconectado deste. O que importa é que são dois dias completamente cheios, onde se fala muito sobre videojogos em Portugal. A convite da organização, estive presente para, mais uma vez, seguir de perto o desenvolvimento desta jovem indústria no nosso país.

Sábado. Chegada ao Porto. Está sol. Vieram comigo velhos conhecidos, Ivo Duarte, da DSquare Games, Filipe Teixeira, da Miniclip, e José Castanheira, da Nerd Monkeys. Todos com conferências agendadas, todos com vontade de partilhar experiências, todos com muita energia.

É cedo quando chegamos, "demasiado cedo", diz Ivo Duarte, que veio para falar sobre a sua experiência depois de dois anos na Ubisoft (Massive Entertainment) a trabalhar no "Tom Clancy's The Divison". Duarte voltou há pouco tempo para Portugal, tendo estado a produzir "The Inner Sea". Vem acompanhado por Filipe Teixeira, também ele um veterano, tendo passado pela Gameinvest e Biodroid antes de chegar à Miniclip.

Na chegada ao evento, mais velhos e novos guerreiros. Artur Leão, Ricardo Mota, João Azuaga e Luís Seco, mentores do Ponto GameDev, também estão presentes. Há abraços a serem distribuídos por todos os lados, assim como gargalhadas. Acredito que este tipo de eventos será o equivalente aos "encontros dos velhos combatentes" da minha geração, na vertente "produção de videojogos". Todos se conhecem, todos têm histórias em comum, todos matam saudades, todos comparam cicatrizes metafóricas ao mesmo tempo que se actualizam.

Oiço quase sempre as mesmas expressões: "O meu jogo está assim agora", "lembras-te daquela situação há cinco anos?", "estou a trabalhar num novo projecto", "fizemos bem isto, fizemos mal aquilo". Esta troca de experiências é fundamental entre produtores.

Sábado e domingo serão cheios desta energia. Dois dias. Um fim-de-semana inteiro. Uma dúzia de conferências — sobre tudo e mais alguma coisa. Fala-se de VR, programação, arte, ferramentas, negócios, burocracias portuguesas e, claro, de jogos, muitos jogos.

Pessoalmente, o título que estou a seguir com mais atenção é "Decay of Logos", da Amplify Creations, a empresa liderada pelo (igualmente veterano) Diogo Teixeira, que afirma estar a seguir o exemplo da Valve, Supercell e Face Punch. Por um lado desenvolvem ferramentas (extraordinárias) para o Unity e Unreal. Por outro, arriscam na criação de jogos em nome próprio, apostando em criadores externos, um modelo, que, segundo Teixeira "assegura a estabilidade da empresa, ao mesmo tempo, que oferece uma via para jovens produtores".

Há também demonstrações de realidade virtual. De um lado a Mimicry Games, do outro a Ground Control e João Jacob. E lá estão visitantes a experimentar os novos periféricos. É engraçado notar que, para quem está de fora a observar, parece estar na presença de uma espécie de jogo da "cabra-cega" deste milénio. Pessoas a abanar os braços no ar, a dar pequenos passos, literalmente, a tentar sentir o terreno (virtual) à sua volta. Como diria Jorge Gabriel, "é o espectáculo, dentro e fora do campo". É divertido para quem joga e para quem observa.

Paralelamente a isto tudo desenrola-se o ISMAI Legends. Por isso vemos fugazmente alguns torneios de e-Sports e demonstrações de "cosplay". Ouvem-se apupos e aplausos de tempos a tempos. Talvez o mais curioso tenha sido uma equipa de jovens que se queixava nos corredores: "Cuidado com os próximos, eles têm um asiático!". "Mind games" dos e-Sports. E assim se passam dois dias: entre linguagem tecnológica, francesinhas e marcação de novos encontros.

O próximo grande evento é o Microsoft Game Dev Camp. Lá estaremos todos e mais alguns para esse novo reencontro dos "velhos combatentes".

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