Joana Vasconcelos e Vhils pintam torres com 100 metros de altura

Joana Vasconcelos e Vhils foram os artistas convidados para assinar duas das maiores obras de arte contemporânea do mundo, em altura. Nasceu assim o projecto WindArt. Duas torres eólicas para também ver nas “terras do demo” de Aquilino Ribeiro

Ainda não se avista a vila de Moimenta da Beira, Viseu, e já se destacam no alto da Serra de Leomil as duas torres eólicas que são o novo ponto turístico desta “terra do demo”, assim baptizada por Aquilino Ribeiro. Fazem parte do parque eólico Douro Sul, mas estas duas estruturas são diferentes por terem a assinatura de Joana Vasconcelos e Vhils. Os artistas projectaram e desenharam os elementos que revestem as duas torres, com cerca de 100 metros de altura e 50 metros de envergadura (pá). Uma intervenção única e que faz parte do projecto WindArt que alia os recursos naturais às paisagens e à arte.

Quem chega a Moimenta da Beira percebe logo que no horizonte existe uma torre cheia de cor. Vê-se bem ainda a quilómetros de distância. Mais ao lado, uns 500 metros em linha recta, uma outra que ao longe está carregada de pontos negros. Conforme se vai pela estrada em direcção à Serra, e o melhor é ir pelo Carapito que os acessos são melhores avisa quem sabe, os traços vão ganhando outra forma. Circunferências azuis, verdes, amarelas e laranjas juntam-se a outras figuras igualmente preenchidas por cores vivas. Não há dúvida. A assinatura é de Joana Vasconcelos.

“Associei-me a este projecto pela sua originalidade e por ser o maior do mundo em altura”, conta a artista. O facto de se tratar de uma obra pública, de ter a dimensão que tem e de estar num “sítio inesperado” foram outras razões que a motivaram a fazer parte desta galeria.

Quanto mais próximo se está do local das torres, melhor se compreende a eólica intervencionada pelo artista Vhils (Alexandre Farto). A uma certa distância, percebe-se perfeitamente o grande olho que preenche parte da estrutura metálica. “Esta peça tem por base uma técnica de revestimento em vinil impresso que cobre a superfície do gerador com padrões e gráficos que simbolizam a riqueza de texturas naturais e as espécies de árvores da região”, começa por explicar Alexandre Farto. É de entre estes elementos gráficos que surge a forma de um olho humano que representa “simbolicamente um farol, que humaniza e ilumina o espaço à sua volta.”

As partes das torres eólicas foram pintadas e montadas em estaleiro e depois transportadas para o alto da Serra de Leomil.

"Gente curiosa"

Em Alvite, a aldeia mais próxima, depois de ver passar os camiões com toneladas de metal, a população comenta agora o aumento de tráfego automóvel, principalmente aos fins-de-semana. “Têm vindo aí muita gente curiosa para ver as torres. Param essencialmente para perguntar direcções”, esclarece António Pereira. “Acaba por ser um ponto turístico que chama gente à região, e é um passeio agradável, porque envolve ar puro, natureza, silêncio e as torres intervencionadas não interferem em nada com a natureza”, defende Tânia Ferreira que foi pela primeira vez conhecer as “terras do demo”.

De acordo com José Eduardo Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, “a Serra de Leomil reúne condições únicas de vento num local de extrema beleza”. Para o autarca, este projecto é “um marco para a região.”

Para José Manuel Saldanha Bento, presidente do Conselho de Administração da Ancora Wind Energia Eólica SA, “a energia faz parte da nossa cultura e da nossa identidade. Actualmente, cerca de um quarto da energia consumida em Portugal tem esta origem. Com o WindArt Project, unimos energia a energia, numa celebração à grandiosidade da cultura, recursos naturais e paisagem portuguesas.”

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