Os famosos são mais valiosos

Marx falou de luta de classes mas nunca falou da luta pela fama. Falou do fetichismo da mercadoria mas não das celebridades serem as comodidades mais valiosas

Foto
DR

Enquanto o cidadão anónimo é um produto "low-cost", os famosos são a existência mais valiosa, com publicações e canais que lhes são totalmente dedicados.

O novo penteado de Mariza ou com quem namora CR7 é, actualmente, mais determinante para a nossa felicidade e formação colectivas do que a paz no mundo. Ou talvez ainda mais, já que beneficia da nossa atenção completa.

Da mesma forma, quando uma celebridade morre é-lhe devotada mais atenção do que quando são centenas de anónimos. Naturalmente a importância do óbito de centenas de anónimos será mais ou menos relevante consoante a similaridade com os ocidentais. Tal como se uma celebridade não for ocidental, poderá talvez equiparar-se a um fenómeno bizarro anónimo no ocidente em termos de tempo de antena.

Depois claro, existem as razões pelas quais alguém se torna famoso hoje em dia, que podem variar desde ser a forma mais vil de existência num "reality show" com uma total ausência de talento para ser membro da humanidade, até ser um escritor de faca e alguidar sobre os temas menos relevantes. Seja como for, a razão é indiferente porque o peso atribuído a uma figura pública menor, será maior do que aquele atribuído a alguém que terá contribuído, de forma discreta mas indiscutível, para o claro avanço da humanidade enquanto espécie. Tal é o caso de Emma Goldman, cuja recordação para a maioria de nós, se encontra perdida nas brumas da história e soterrada sobre séculos de inutilidades como invenções de refrigerantes, frigoríficos com internet ou celebridades como a Kátia Aveiro e o Gustavo Santos. É por isso que há políticos que não precisam de fazer campanha para vencer, não quando têm tempo de antena grátis enquanto comentadores, uma outra forma de celebridade. Por isso existem também tantos escritores que não sabem escrever, actores que não sabem representar e cantores que não sabem cantar.

A culpa é nossa, público, que não nos limitamos a voltar as costas e construir a nossa selecção de interesses, permanecendo passivos, serenos e dóceis, fieis à mesma programação de influências de sempre. Quando o que deveríamos fazer era castigar os meios de comunicação, criando os nossos próprios conteúdos, democratizando a informação e deixando qualquer espécie de celebridade ao abandono para que morra de fome de atenção. Até lá o desfile de imbecis prevalecerá.

Sugerir correcção
Comentar