Despertadores e canções de embalar? Quem manda são os iões

Adormecer e acordar podem ser duas acções bastante complexas no nosso dia-a-dia, e a culpa pelo que parece é dos iões que andam pelo nosso cérebro

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Sonja Langford/Unsplash

És daqueles que nos primeiros minutos após acordar quase nem uma palavra consegue processar? Ou mesmo quando estás a cair de sono não consegues adormecer? Adormecer e acordar podem ser duas acções bastante complexas no nosso dia-a-dia, e a culpa pelo que parece é dos iões que andam pelo nosso cérebro.

Segundo o estudo publicado recentemente na "Science", os níveis de certos iões no cérebro, e não a actividade neural, parecem ser os verdadeiros responsáveis por fazer o nosso cérebro adormecer ou acordar.

Os cientistas já sabiam que os níveis de iões como o potássio, cálcio e magnésio que estão envolvidos nas células nervosas se alteram durante o adormecer e o despertar mas pensava-se que eram os neurónios que comandavam estas mudanças. No entanto, existem substâncias químicas no cérebro, “neuromoduladores”, que podem directamente embalar o cérebro ou acordá-lo, simplesmente por alterar as concentrações dos iões.

Os investigadores da Universidade de Rochester, Nova Iorque, descobriram um sistema de drenagem que “lava” o cérebro durante o sono e que permitiu medir as mudanças de fluidos entre as células cerebrais. Assim, perceberam que as mudanças de iões seguem padrões previsíveis: níveis de iões de potássio são elevados quando os ratos (e muito provavelmente nós, humanos) estão acordados e baixos enquanto dormem. Por outro lado, o cálcio e o magnésio têm comportamento oposto apresentando níveis elevados durante o sono e níveis mais baixos quando acordados.

Além disso, mesmo quando os investigadores adicionaram uma substância, a tetrodoxina, para parar a actividade dos neurónios, esta alteração a nível iónico e de estado do cérebro ocorreu. Assim, os resultados sugerem que as substâncias químicas (sim, as nossas amigas hormonas) como a noradrenalina, acetilcolina, dopamina e histamina afectam directamente os níveis de iões, mas sem ajuda dos neurónios. A questão que fica é como é que as hormonas fazem esta gestão da concentração de iões.

Segundo os investigadores, aprender mais sobre como estes iões afectam a vigília e sono pode eventualmente levar a uma melhor compreensão do sono, bem como estado de consciência e coma.

Enquanto isso, sempre que não despertares ou não conseguires adormecer não culpes os despertadores ou as canções de embalar do Vitinho, afinal quem manda são os iões.

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