Associação procura instrutores para cães de assistência

Ânimas forma animais para ajudar portadores de deficiência e surdos. Mas a lista de espera para ter um cão destes é superior a dois anos. Razão: não há instrutores para treinar os bichos

David Gray/ Reuters
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A Ânimas, uma associação que prepara cães de serviço para indivíduos portadores de deficiência e para surdos do Porto, tem pedidos com um tempo de espera superior a dois anos devido à insuficiência de instrutores para os animais. A revelação foi feita à agência Lusa por Liliana de Sousa, presidente da Ânimas - Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social, responsável pela entrega de 10 cães — um para surdos e nove para assistência social — desde que se constituiu, em 2002.

A associação que já viu uma parte do seu trabalho difundido em publicações internacionais sob a forma de teses de doutoramento, luta pelo "reconhecimento em Portugal do trabalho a cargo de uma equipa multidisciplinar e que procura através da formação dos cães dar uma vida melhor às pessoas que deles necessitam", explicou a responsável, docente de Veterinária no Instituto de Ciências Abel Salazar (ICBAS)

Foi ali também que nasceu a Ânimas, em resultado do interesse manifestado por um conjunto de alunos "e após um contacto com instrutores" de animais, revelou. Os ensinamentos surgiram "com o apoio da Fundação Bocalan, que atravessou a fronteira para ministrar a primeira formação de instrutores para cães de assistência" e, desde então, o processo nunca mais parou. "Actualmente, estão mais três cães em formação", disse. A associação não recebe apoios do Estado — "quando tentámos estabelecer um protocolo instalou-se a crise e a oportunidade perdeu-se", contou Liliana de Sousa —, pelo que "sobrevive à custa de pequenos patrocínios e de uma ou outra parceria", sendo gratuito todo o processo que envolve o cão.

Dos labradores aos rafeiros

"Os cães são doados pelos criadores que previamente fazem uma selecção do que mais se adequa às características do candidato, após o que é preparado, num processo que pode levar entre oito a dez meses. Segue-se o acoplamento, ou seja, a pessoa e o cão passam a interagir e a conhecer-se antes da entrega gratuita do animal ao seu novo dono", explicou Sebastião Castro Lemos, antigo criador dos Labrador Retriever e actual chefe dos instrutores.

De acordo com a presidente da associação, os candidatos têm de cumprir um "rigoroso processo de avaliação", que se inicia com uma "recomendação médica, depois uma entrevista e que, uma vez aceite, desencadeia o passo seguinte, a procura do cão ideal". E se os labradores dominam as requisições, quando se trata de cães para cegos a opção é bem menos exigente em relação aos surdos, explica Sebastião Castro Lemos: "Pode ser de qualquer raça". "E até convém que sejam mais baixos, porque o alerta deles é feito com a pata e não convém que seja na cara. Podem até ser rafeiros."

O futuro, segundo Liliana de Sousa, passa também pelo "implementar em Portugal de programas de intervenções assistidas para animais", uma área onde, lamenta, "não há legislação". "Têm de ser definidas as regras e assim regular a formação, não apenas do cão e da pessoa, mas também das duplas", frisou. A Ânimas é associada da Assistant Dogs International, que reúne todas as organizações sem fins lucrativos do mundo no sector da formação de cães.

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