Cientistas criam pele artificial que transpira e na qual crescem cabelos

Investigadores de duas universidades japonesas anunciaram o desenvolvimento de pele artificial que transpira e na qual é possível encontrar folículos capilares. Método pode vir a ser usado como alternativa aos testes químicos feitos em animais

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Drew Hays/Unsplash

O anúncio, tornado público há alguns dias, pode vir a ter um impacto relevante na qualidade de vida de pessoas que sofreram queimaduras ou têm outras doenças graves da pele. Cientistas do Instituto RIKEN e da Universidade de Tóquio, ambos no Japão, criaram, em laboratório, pele “com folículos capilares e glândulas sebáceas”. Este novo tecido transpira e permite o crescimento de cabelos, tal como a pele natural.

Os tecidos tridimensionais foram implantados em ratinhos de laboratório, “formando ligações correctas com outros sistemas de órgãos como os nervos e as fibras musculares”, lê-se no comunicado de imprensa divulgado pelo site do Instituto RIKEN. “Este trabalho abre o caminho para a criação de transplantes de pele funcional para queimados e outros pacientes que requerem nova pele.”

De acordo com Takashi Tsuji — autor principal do trabalho, publicado na revista “Science Advances” —, o desenvolvimento de pele artificial tinha, até agora, sido “dificultado pelo facto de o tecido não ter os órgãos importantes, como folículos capilares e glândulas exócrinas”.

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As células transplantadas foram coloridas com uma proteína verde Takashi Tsuji/RIKEN

Com esta nova técnica, que “replica o funcionamento do tecido normal”, continua o investigador, a ciência está “mais perto do que nunca do sonho de se ser capaz de recriar órgãos em laboratório para transplantes”. Além disso, o crescimento de tecidos em laboratório através deste método pode ser usado como alternativa aos testes químicos feitos em animais. Para chegarem a esta pele sintética, os cientistas japoneses manipularam células retiradas das gengivas de ratos e transformaram-nas em células estaminais indiferenciadas, “capazes de se desenvolverem em qualquer tipo de tecido”, escreve o site Quartz. O enxerto foi depois implantado com sucesso num ratinho sem pelo e com um sistema imunitário deprimido.

O crescimento de cabelos e a transpiração são elementos fulcrais. “[Os enxertos de pele de hoje] funcionam, mas não se parecem nem se comportam como pele”, admitiu John McGrath, professor de dermatologia molecular do King’s College, de Londres, em entrevista à BBC. “Se não temos os folículos capilares ou as glândulas sudoríparas, não vai funcionar como pele”, faz questão de sublinhar o docente universitário. Segundo a BBC, esta descoberta poderá vir a ser aplicada a seres humanos num espaço de entre cinco a dez anos.

Em Outubro de 2015, cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, publicaram uma investigação na qual descrevem a criação de pele artificial para ser aplicada em próteses, com o objectivo de devolver a sensação de toque e pressão. 

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