A Troika, 15.ª parte — o regresso do retorno da vingança final

Resgatar seis bancos em seis anos foi um dos determinantes da acção da troika. Precarizar a força de trabalho, desregulamentar licenciamentos, privatizar bens públicos e recursos naturais foram os outros

Foto
Pixabay

No final, a saída limpa e os cofres cheios pertencem à mesma ordem de realidade da demissão irrevogável do ex-vice-primeiro-ministro. Sobre a saída, dia 27 de Janeiro volta a troika. De novo. Pela 15.ª vez desde 2011, depois de 12 avaliações durante o programa, a 3.ª pós-programa. Novamente com uma "hit-list" com 18 exigências.

A falta de limpeza já tinha ficado clara com o levantamento do tapete que escondia um gigante buraco para a cave chamado Banif, acompanhado ao lado do soalho flutuante Novo Banco, que ameaça rachar a qualquer momento. Dos cofres cheios verificou-se estarem lá notinhas do monopólio que, apesar de tudo, ainda valiam mais do que as acções do Banif ou do que a credibilidade do Governo anterior.

Imagine-se o que a troika traz na mala? A cartilha da liberalização, a acusação da dificuldade em licenciamentos comerciais, da excessiva carga fiscal sobre as empresas, do défice excessivo, da insustentabilidade da dívida e naturalmente, da “rigidez” do mercado laboral, da dificuldade de despedir (a sério, não é para rir), do obstáculo que a contratação colectiva é para o “ajustamento eficiente dos salários” (ou seja, para os salários não serem mais baixos).

A troika é uma colectividade de organizações que, apesar da sua incoerência oralmente expressa (quantas vezes não admitiu já o FMI que a austeridade não funciona, mas continua a aplicá-la, quantas vezes não disse já a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu que era preciso limitar gastos, enquanto financiava e apoiava a injecção multimilionária de dinheiros públicos na banca, em segurança e em gastos militares?), é extremamente regular na sua prática.

Assim vem dizer, depois do catastrófico “ajustamento” que implicou a duplicação do desemprego, o acentuar da precarização do trabalho ainda existente, a alienação de bens públicos e a explosão da dívida pública, que é preciso continuar. Ora, desta vez a troika também vai, ao que parece, falar do Banif e do Novo Banco. Do Banif provavelmente para louvar mais um resgate de um banco privado com dinheiro público (aliás, a Comissão Europeia, parte da troika, é que deu ordens para o governo injectar mais alguns milhares de milhões de euros no Santander).

Do Novo Banco, deverá fazer coro com a Associação Internacional de Swaps e Derivados que, reunindo Bank of America, Barclays, BNP Paribas, Citibank, Credit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, JP Morgan Chase, Morgan Stanley, Nomura, Mizuho, Société Générale e fundos de gestão de capital, está furiosa com a possibilidade de não ser um Estado a pagar o buraco do capital de risco e a ter acionar os seguros sobre as obrigações, os "credit default swaps" – CDS (lembram-se de 2008?), para pagar novo buraco do ex-BES.

Resgatar seis bancos em seis anos foi um dos determinantes da acção da troika. Precarizar a força de trabalho, desregulamentar licenciamentos, privatizar bens públicos e recursos naturais foram os outros. Não é de estranhar portanto o seu caderno de encargos: é preciso continuar a falar de dívidas e défices enquanto se usam todos os métodos para garantir a sua perenidade — facilitar despedimentos, permitir salários baixos, precarizar e desproteger, facilitar o desaparecimento de impostos sobre as empresas que mais lucro dão, autorizar actividades económicas perigosas (como exploração de petróleo e gás, abertura de minas e licenciamento zero de explorações agropecuárias, pedreiras e fábricas ilegais) sem constrangimentos e garantir o resgate público da banca privada, sempre, em todos os momentos, sem hesitação.

Hoje, existe um programa de Governo que colide directamente com a lista de 18 apontamentos de vingança que vêm na mala da troika. Esta é a colisão que decide o futuro do país.

Sugerir correcção
Comentar