Pausa para balanço

Serás capaz de reconhecer o amor da tua vida quando o vires mesmo à tua frente?

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Dominik Martin/Unsplash

No momento em que um dragão alado te interromper a marcha, qual será a tua reacção? Quando as convenções te destruírem a essência, saberás ser humano ou ficarás escondido nas armadilhas que montaste para ti mesmo? Serás capaz de reconhecer o amor da tua vida quando o vires mesmo à tua frente?

Os fins de ano são propícios a isto: os vídeos mais vistos, as pessoas que mais nos marcaram, os ícones que perdemos, as derrotas e as vitórias que assinalaram um número numa cronologia sem fim. Embora não seja particular fã de finais de dezembros e de celebrações patarecas, as datas irrevogáveis nos calendários têm este condão de nos impedir de esquecer o que aconteceu, de evitar que o futuro seja mal escrito porque as frases anteriores não foram devidamente entendidas.

Eis um exercício que deveria ser bem mais frequente: agarrar na bagagem que se tem, destrinçar o que serve do que não serve, largar despojos no ecoponto mais próximo e prosseguir caminho com o que se tem de essencial. Recorrendo à gíria contabilística, chama-se a isto parar para fazer um balanço. Mas as pausas para balanço são também pausas para ganhar balanço, que os saltos não se dão à força de passadas tímidas. Tudo muito lindo, em teoria, mas como se faz? A verdade é só esta: ninguém saberá melhor que tu. Os teus dias são isso mesmo: teus. Se houver um manual de instruções para a tua vida, ninguém o poderá redigir para além de ti, para o bom e para o pior. Ou, como um dia alguém me disse num sonho de carne e osso, se queres ler os livros que ninguém escreveu, escreve-os tu. E, por muito manual de instruções que te queiram impingir, deverás estar sempre certo disto: não existe modo certo de viver. Tu sabes as tuas circunstâncias, aprende a jogar o jogo e move peões sem ter medo de perder. O pior que poderá acontecer é regressar à casa de partida e, aí, terás as lições da experiência, o suficiente para que saibas fazer melhor da próxima.

Se estás a correr, caminha. Se caminhas, estaca para introspecção. Que não haja vergonha de investigar mapas: tanta e tanta estrada, não temos de seguir sempre em frente, sem guinadas repentinas. E, havendo medos, espeta-lhes com um cliché e descobre-lhes o lado de dentro da carne. E, no próximo balanço, terás um certo (e maior) orgulho no teu eu de ontem.

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