Estou chateada com o meu país!

A política anda com uma crise de adolescência, a democracia está ofendida e emigrou e o plebiscito faltou às aulas de matemática

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Patrick Pilz/Unsplash

Ando numa luta diária com a situação do país onde acordo todos os dias. Vejo a realidade que me circunda em vários formatos e nenhum deles me agrada, desde o 3D ao A4. Está tudo em convalescença, tudo torto e descentrado. A política anda com uma crise de adolescência, a democracia está ofendida e emigrou e o plebiscito faltou às aulas de matemática. Se fosse só isso…

O desemprego que pede esmola, o descontentamento é um maluquinho que percorre a mesma rua todos os dias a murmurar para as pedras da calçada, a cultura que mora num pincel sem tinta, os terrenos que são populares, a TAP que voa mas que o “pai” não está em Lisboa, o novo banco que já se esgotou de velho! E as vérités très offensés que vivem parcamente num apartamento arrendado em Paris. Oh mon Dieu!! Um desgaste para a nossa inteligência. Se passarmos então a fronteira as decepções continuam, pois o sofrimento tem ganho uma expressão mais madura e desesperada. Confino-me por agora às dores nacionais, que, penso que não serão só vividas na primeira pessoa, certamente. Começo a achar que afinal o normal é este cenário. Acordar, vestir um vestido ajustadamente desajustado e, sair de casa! Depois chega o fim-de-semana, curam-se as dores da alma com as virtudes do tempo desocupado, ocupam-se lugares nos bares e discotecas em voga. Trocam-se mensagens para aglomerações e estabelece-se um ponto de encontro. A felicidade rasa passa por abrir uma garrafa na discoteca, ter os “amigos” que nos aquecem o ego com sorrisos no meio das luzes, uma meninas giras a dançar à volta com um olhar afável e linguagem corporal “artística” e voilà, está tudo bem, encheu-se o balão de oxigénio que permite respirar desafogadamente para mais uma semana! Que felicidade plástica, que crua idade adulta, o desespero sorrateiro de facto, é o pior.

E não se adianta muito mais do que isto, é o que nos confina, o que temos. Obviamente que não será a realidade tangível de todos, mas, é o que os meus olhos me têm mostrado com alguma teimosia. Eu digo-lhes para serem sensatos e colocarem algum filtro, mas eles, tal como Camões, têm uma visão monocular e precipitam-se muito! Como diz o adágio “Quem dá o que tem, a mais não é obrigado”. Pois, esses brocardos que quanto mais rimam mais verdadeiros supostamente são, são é uma ilusão (também rimei). O meu país é muito mais do que isto, vale muito mais do que uma democracia coxa que joga à cabra cega com um lencinho transparente que dança burlescamente e despudoradamente A Portuguesa.

Depois de todas estas agruras eu caminho para a Praça do Comércio com passos de fé enquanto olho de soslaio para o Martinho da Arcada e, pisco-lhe o olho. Penso nas palavras de Caeiro, o Tejo entra no mar de Portugal, é mais livre e pertence a menos gente, porque vai para o mundo. Se calhar o que ele nos queria dizer era que o “além” era uma solução, visto que o rio da aldeia dele não o faz pensar em nada, porque quem está ao pé dele está só ao pé dele. Como ainda não percebi muito bem estes prelúdios vou todas as semanas ouvir as ondas com uma saudade do futuro para perceber o nosso presente!

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