Deixa de ser leitor. Faz-te leão

O "El Español" promete agitar não só a Espanha, mas também a Europa. Resta saber como vai o público reagir a este turbilhão. Será que o tradicional jornal está condenado a desaparecer?

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Polémico, controverso, convulsivo e inovador. O "El Español" promete ser isto tudo e já se encontra a abanar os alicerces da imprensa e sociedade espanholas. Poderá então um simples jornal online espanhol ir contra o tradicional? Terá ele capacidade de sobreviver e marcar uma posição na imprensa espanhola? Sim, porque acima de tudo é um jornal, mas que ao mesmo tempo não é um jornal.

Pedro Ramirez, marido da conhecida Agatha Ruiz de La Prada e pilar da imprensa não só espanhola como europeia, é o rosto por detrás deste arrojado e ambicioso projecto. A base assenta num site com notícias que estão constantemente a ser actualizadas, mas não no modelo tradicional de um jornal. Os editoriais prometem ser fortes e aguerridos, sem medo de chocar e de lançar o debate e confusão na opinião pública espanhola. Para além disto, as secções habituais — política, economia, internacional — vão ser substituídas por espaços que privilegiam os destaques e a opinião. Destacam-se ainda as novas abordagens que o jornal online pretende dar à ciência, desporto e entretenimento.

O objectivo é privilegiar a experiência do leitor, sendo que a sua campanha publicitária se baseou no repto do título: "Deixa de ser leitor. Faz-te leão". O surgimento do "El Español" é também ele um processo que já está a dar nas vistas. Através de um processo de "crowdfunding", que reuniu diversos apoios, o projecto avançou e conta com uma vasta rede de profissionais, desde o jornalismo, ao marketing ou ao design.

O projecto visa renovar o jornalismo espanhol, mergulhado numa crise, tal como quase todo o jornalismo europeu. A imprensa em papel vive tempos complicados, muito por culpa de uma tecnologia que está cada vez mais acessível a toda a população, levando a que os leitores apresentem novos hábitos e tenham novas exigências, que a imprensa tarda em acompanhar. O movimento “O papel não faz falta” é cada vez mais uma realidade, tanto a nível europeu como mundial.

Tudo começou em 1995, com o aparecimento de um site de classificados, o hoje popular "Craigslist". Pela primeira vez, os tradicionais anúncios classificados tinham uma plataforma online e independente dos jornais diários. O turbilhão seguiu-se e o modelo online é cada vez mais uma realidade nos jornais. De um ponto de vista puramente financeiro, o modelo do papel é complicado: os custos de produção, de distribuição, de entrega ao cliente e ambientais são enormes e incomportáveis com a realidade. A possibilidade de uma actualização quase ao minuto online também dificulta o trabalho de um tradicional jornal diário que incide sobretudo em acontecimentos do dia anterior.

O que está em causa não é então o produto, mas sim o modelo de negócio por detrás de todo o processo e que, em última instância, permite a sustentabilidade da imprensa. As indústrias musical e fotográfica já sofreram adaptações e mudanças, no sentido de acompanhar a evolução de um utilizador cada vez mais exigente. A própria imprensa tradicional começa já lentamente a querer evoluir, destacando-se neste campo o "Financial Times" ou o "Washington Post", que apostam cada vez mais em conteúdos e inovação online.

O "El Español" promete agitar não só a Espanha, mas também a Europa. Resta então saber como vai o público reagir a este turbilhão. Será que o tradicional jornal está condenado a desaparecer?

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