Passados futuros, futuros passados

Um conselho: agarra em ti e vai fazer uma coisa pela primeira vez. Se correr bem, tanto melhor. Se correr mal, terás uma história para contar

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O reino das possibilidades é infinito; não é possível mapeá-lo, não há modo humano de o destrinçar, de lhe compreender todas as particularidades. É por isso que cada minúscula decisão tem um peso tão grande sobre os nossos ombros — talvez não saibamos dar conta deste facto, e ainda bem, não seria saudável ter consciência dos nano-universos que alteramos com cada opção que o nosso cérebro executa, por mais mísera que seja. Deixemos de parte das discussões entre os deterministas e os que advogam o livre-arbítrio e paremos para pensar um pouco nas decisões que tomamos, que tomámos e que tomaremos.

Encontrar gente ou circunstâncias do passado revolve águas há muito paradas. Especialmente quando as pessoas em causa estão tão mudadas quanto nós. A pergunta é inevitável: e se eu ali me tivesse mantido, com este bicho humano, naquele sítio, naquele contexto?; e se eu não me tivesse pirado abruptamente do que me envolvia, e se eu não tivesse procurado uma nova paisagem para pintar outros quadros? Quantas são, na verdade, as decisões de que nos arrependemos? E, em contraponto, quantas são aquelas de que nos orgulhamos? Para que lado pende a balança? O que sentimos quando ex-namorados se casam e se tornam pais, qual a sensação de saber que poderíamos ter tido uma profissão totalmente diferente (tanto em hábitos como em dinheiros), que faríamos se houvéssemos mudado de lar mais cedo, ou mais tarde. Onde param as respostas se as perguntas não forem feitas?

Isto serve ao ontem de maneira semelhante como cabe no amanhã. Que decisões de hoje farão manchetes na nossa vida futura? Se não tivessem existido mudanças, o nosso futuro do passado era, por certo, outro. Os futuros do passado eram um hoje diferente, idealizado, irreal. Do mesmo modo, o passado do futuro dependerá do lugar onde hoje nos encontramos e, naturalmente, do que fizermos com ele. Nunca saberemos que universos paralelos fariam parte da nossa existência, podemos apenas imaginá-los, numa redoma, caminhando ao nosso lado.

Talvez o segredo de não ter arrependimentos resida em não ter medo de falhar. Falhar mais, falhar sempre mais, para sempre falhar melhor. Toda a gente sabe que as derrotas são as melhores professoras. Um conselho, portanto: agarra em ti e vai fazer uma coisa pela primeira vez. Se correr bem, tanto melhor. Se correr mal, terás uma história para contar. Mas, pelo menos, o tu do futuro longínuo, deitado numa cama de hospital, aos 90 anos, prestes a expirar o último pedaço vivo de ar, não pensará nos "e se..." que deixaste por cumprir quando tiveste oportunidade. Faz. Sem medos.

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