“Queima do Gato”: vídeo gera indignação na Internet

Vídeo de um gato a arder que regista uma "tradição" das festas de São João da freguesia de Vila Flor gerou uma onda de indignação. População está agora a braços com a Justiça

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A população de Mourão, no concelho Vila Flor, Bragança, está a braços com a Justiça devido a uma tradição de São João denominada "Queima do Gato" que envolve um animal vivo.

A GNR confirmou à Lusa que iniciou diligências para identificar os autores no âmbito de um inquérito aberto no Tribunal de Vila Flor depois de várias denúncias. Também a associação de defesa dos animais Grupo Gatos Urbanos anunciou esta sexta-feira que vai avançar com uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Acção Penal, constituindo-se como assistente do processo, "com o objectivo de levar à justiça os responsáveis e cúmplices e para que esta barbara e vergonhosa prática não se repita mais". Está ainda a decorrer uma petição online pelo "fim da cruel tradição 'A Queima do Gato'" que conta com milhares de assinaturas.

O ritual foi divulgado nas redes sociais onde se gerou uma onda de indignação que já fez eco na aldeia, onde a população garante que "nunca morreu nenhum gato" e que o último que foi sujeito a esta prática "está bem". A "tradição" chegou ao conhecimento público através de um vídeo colocado nas redes sociais com a duração de cerca de cinco minutos. Terá sido inicialmente disponibilizado online pelo Grupo de Danças e Cantares de Vila Flor, mas a onda de contestação que se gerou levou a que tivesse sido entretanto removido. Continuou, no entanto, a ser partilhado em diferentes contas.

Segundo a descrição do Grupo Gatos Urbanos, o vídeo "mostra um gato colocado dentro de um recipiente de barro e levantado a alguns metros de altura, num poste". "O poste vai sendo queimado e à medida que as chamas envolvem o recipiente com o animal lá dentro ouvem-se os gritos lancinantes do animal em sofrimento atroz. Quando o poste arde, projecta-se no chão, sendo que o animal cai de uma altura superior de três metros, fechado no recipiente a arder, recipiente esse que se estilhaça no chão", descreve.

Nesse momento "vê-se o gato em chamas a "gritar" agonizantemente enquanto a população ri, esbraceja e se diverte com o suplício do animal que corre em círculos, tentando alívio e fuga, desorientado em agonia extrema", continua aquela organização, indicando, que o crime foi denunciado pela Associação Midas. A associação Grupo Gatos Urbanos informou que vai requerer "informações sobre o estado actual do animal alvo de sacrifício/maus tratos e que sejam efectuadas todas as diligências necessárias para a identificação dos promotores, autores e participantes deste crime".

Gato queimou o pêlo, mas está "bem"

"Nunca morreu nenhum gato e este está bem, a GNR já o veio ver", afirmou à Lusa Aida Alves, habitante de Mourão que encara como "ridícula" a situação que está a gerar-se em torno do caso. Com 80 anos, Aida Alves garantiu que sempre existiu esta tradição associada às festas de São João e que "há três ou quatro anos que é (usado) o mesmo gato". Segundo contou à Lusa, é um habitante da aldeia que tem gatos que oferece o animal para este ritual. Aida Alves reconheceu que nesta festa o animal "queimou um bocadinho o pêlo", mas acrescentou que se encontra "bem".

"Está aí bem bonito, podem vir ver. Já cá veio a Guarda e já o viu", declarou. Confrontada com a lei que pune os maus tratos e sofrimento infligido aos animais, Aida Alves responde com uma pergunta: "e não há lei para os cães abandonados que deixam por aí?". As festas de São João são organizadas pelos poucos jovens que mantêm laços com esta aldeia de Trás-os-Montes "onde existem apenas meia dúzia de velhos", como disse à Lusa Aida, que teme que agora se acabe com a tradição e fiquem "cada vez mais abandonados".

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