O World Rugby U20 Trophy

Os jogadores de Portugal devem honrar a camisola que vestem: por si, pelos seus companheiros de equipa, pelas suas famílias, pelos seus amigos

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Começa nesta terça-feira, em Lisboa e com grupos diferentes no Estádio Universitário e no Jamor, o World Rugby U20 Trophy, o Mundial B sub-20, com a presença das equipas representativas de Fiji, Uruguai, Geórgia, Canadá, Tonga, Namíbia, Honk-Kong e, naturalmente, Portugal naquela que é, com certeza, a prova rugbística mais importante que alguma vez se realizou por cá.

 

A sua realização pela Federação Portuguesa de Rugby tem como objectivo principal proporcionar aos futuros internacionais absolutos - os jovens sub-20 - a experiência necessária à competição internacional. E essa experiência servirá de teste para se perceber onde estamos e de que tipo de desenvolvimento necessitamos para a evolução sustentada da posição internacional.

 

Claro que as dificuldades para os jogadores portugueses serão muitas. O salto é grande e os hábitos competitivos internos estão longe de proporcionar as ferramentas necessárias para resolver todos os problemas com que se irão defrontar - mas é isto, estas dificuldades, que tornarão a experiência num válido domínio que permitirá enquadrar a transformação.

 

De facto, jogar ao nível das competições internas - seniores, sub-23 ou mesmo sub-18 - está longe de proporcionar as competências que as competições internacionais de bom nível exigem. Proporcionar estes confrontos à próxima vaga de internacionais absolutos é permitir o conhecimento do seu nível e da distância a percorrer para atingir o pretendido patamar.

 

Para primeiro jogo, Portugal defronta Fiji que se apresenta com uma preparação de bom nível com jogos feitos na Austrália e que tem por objectivo retornar ao Grupo A. Os jogadores portugueses, pelo contrário, ficaram-se pela preparação caseira e não fizeram qualquer jogo internacional após o torneio, ainda sub-19, em que se apuraram. O que torna as coisas mais difíceis.

 

Mas sendo esta a realidade - o país não mostra suficiente capacidade desportiva para elevar o nível do seu sistema - só resta aos treinadores e responsáveis encontrar os "cadinhos" que possam acelerar a formação, o desenvolvimento e a preparação. Que, embora não sendo muitos, existem - basta, para começar todo o processo de renovação e mudança, que se perceba que a competição desportiva não pode viver de forma dependente da actividade física ou das formas de lazer desportivo. Como diria "o outro", a cada um o seu galho, no diferente papel e diferentes destinos que cabe a cada uma das formas comummente e confusamente designadas por desporto.

 

A equipa está bem treinada - João Pedro Varela, Luís Pissarra e Nuno Damasceno, com a coordenação de Henrique Garcia e a "ajuda" de Henrique Rocha com a "sua" Força Oito - têm feito um bom trabalho que terá reflexos na qualidade da prestação da selecção. E - assim espero - a sua tentativa de levar os jogadores a ultrapassar o mero conceito defensivo para um estádio mais avançado de utilização da bola puderá constituir o elemento transformador fundamental para desenvolver, desde que apoiados num sistema adequado, uma capacidade sustentável de competição internacional. Mostrem os jogadores que a confiança que se percebe da sua vontade competitiva é uma realidade que lhes permite o risco adequado na exploração dos espaços e intervalos e novas portas se podem abrir para o desenvolvimento estratégico das potencialidades e ultrapassagem das lacunas reconhecíveis.

 

Mas não se espere - não se exija! - resultados excepcionais a esta equipa que tem óbvias qualidades mas não tem, por razões óbvias, as capacidades que permitam ultrapassar as melhores equipas presentes. Existem lacunas resultantes da competição nacional e da distância a que nos encontramos dos hábitos internacionais. Aquilo que se pode pedir não é mais - como frisou o futebolista internacional Rui Costa que visitou segunda-feira os seleccionados portugueses - do que a clara demonstração de que tudo fizeram para tentar ganhar os jogos em que participam. Ou seja, honrar a camisola de Portugal que vestem: por si, pelos seus companheiros de equipa, pelas suas famílias, pelos seus amigos.


E se a ansiedade, o receio de perder, o medo de ganhar dominarão cada um até à hora de entrada em campo, o cantar do hino em conjunto, qual grupo de guerreiros prontos ao combate, libertará as tensões e permitirá que o melhor de cada um apareça nos momentos exactos para que a atitude se junte às capacidades permitindo, como expressou o escritor escocês Walter Scott, atingir o êxito que desejámos. 

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