Jovens portuguesas querem fazer arquitectura humanitária

São dez os finalistas da edição 2015 do Prémio Nacional das Indústrias Criativas — e nós quisemos saber mais sobre eles. Ângela Pinto e Joana Lacerda criaram o Cross Hands Arquitecture, um atelier com carácter humanitário que quer ajudar vítimas de catástrofes

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Carla Pereira

Como definiriam o vosso projecto, um dos dez finalistas do PNIC 2015?

Este projecto surgiu de uma indignação comum perante algumas realidades do mundo, de uma paixão pela arquitectura social que levou duas amigas a ir mais além, criando um atelier de arquitectura com carácter humanitário — o Cross Hands Architecture. É uma marca portuguesa que trabalha em parceria com empresas que detêm responsabilidade social e com as mais importantes organizações humanitárias, garantindo que o consumidor final será sempre a população mais carenciada. O serviço primordial passará por encontrar soluções, através da arquitectura, que respondam rápida e eficazmente a problemas de ordem emergente. Tentaremos minimizar o sofrimento das vítimas de catástrofes, guerras ou pobreza, combatendo a falta de habitação e a sua precariedade e dedicando o nosso trabalho a quem realmente precisa de melhores condições de habitabilidade.

 

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Mud House, em parceria com a arquitecta Catarina Sousa DR

Em que é que o vosso projecto difere de outros semelhantes?

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Designing Emergency Shelter, em parceria com Carla Pereira

Muitas vezes sentimos que o nosso projecto é confudido com uma vertente missionária. É na desconstrução dessa ideia que estamos a trabalhar neste momento. Este é para nós um negócio, como outro qualquer, que se distingue por ter um fim social. Cada projecto é pensado para dar resposta a problemas de ordem actual que, infelizmente, são cada vez mais constantes e, por isso, constituem um mercado em expansão, ainda pouco explorado. Sabemos que, a nível mundial, existem muitos a pensar sobre esta temática mas poucos arquitectos a trabalhar exclusivamente no mercado das causas humanitárias. Até ao momento, desconhecemos a existência de algum atelier português que se dedique inteiramente a fazer este tipo de projectos. Essencialmente, o que nos distingue de outros é a capacidade de responder a uma lógica do mercado transversal a vários níveis. Pretendemos despertar a consciência humanitária dos cidadãos locais, associando os nossos projectos a marcas que se identifiquem com estas preocupações, não descuidando a parte económica e ambiental.

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As jovens arquitectas Ângela Pinto e Joana Lacerda Tiago Dias dos Santos

 

Quais as características que um vencedor do PNIC deve ter?

Acima de tudo deve ser um sonhador, alguém apaixonado pelo seu projecto ao ponto de superar todas as adversidades que o mercado possa impor. Acreditamos que quem sonha não desiste e essa é, para nós, a chave do sucesso. Depois, poderemos falar da persistência e perseverança que, quando aliadas ao sonho, nos capacitam para transformar ideias em realidade.

 

A concurso estão 25 mil euros. Em que investiriam este valor?

Em primeira instância, investiríamos na produção do protótipo de um projecto que estamos a desenvolver, o que nos ajudaria a aumentar mais rapidamente as receitas através da comercialização do mesmo. Poderíamos testar também outro projecto piloto que temos vindo a desenvolver. Uma vez que nos propomos a trabalhar para o mundo, sentimos necessidade de investir numa boa estratégia de comunicação da nossa marca, de modo a fazer com que a mesma chegue mais eficazmente aos órgãos.

 

Quais são os vossos objectivos para 2015?

Uma vez que o Cross Hands Architecture nasceu no início deste ano e sentimos que já conseguimos fazer muito por esta ideia, está nos nossos objectivos constituir uma empresa e alargar a nossa equipa, ambicionando a criação de novos postos de trabalho. Para este ano esperamos, também, implementar os projectos que estamos a desenvolver (abrigos para os refugiados e a recuperação de uma associação de moradores de uma favela no Rio de Janeiro), bem como alargar a nossa rede de parcerias, de modo a que surjam novos desafios. Queremos ver o nosso contributo a ajudar e a melhorar a vida de muitos, conhecer estas realidades de perto — esta sempre foi a nossa maior intenção. Queremos fazer deste projecto um exemplo para que outros possam seguir a mesma via, mostrar aos jovens arquitectos que o nosso país tem muito potencial e que não é preciso sair daqui para fazer a diferença no mundo.

 

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