Politécnico inaugura no Porto a quinta Design Factory que existe no mundo

Projectos transversais às sete unidades do Instituto Politécnico do Porto desenvolvem-se num ambiente de informalidade mas onde o projecto pedagógico é rigoroso

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Paulo Pimenta

Não é uma questão de pompa e circunstância, até porque a informalidade, por estas bandas é quem mais ordena – o mais provável é que qualquer um que pretenda visitar as instalações venha a ser recebido à volta da mesa da cozinha. Foi lá que Rui Coutinho, o "firestarter" da Porto Design Factory, isto é, o responsável da nova “casa” do Instituto Politécnico do Porto (IPP), recebeu o PÚBLICO em vésperas de inauguração.

Mas esta segunda-feira é mesmo dia de festa, por nele ter lugar a inauguração oficial da Porto Design Factory (PDF), altura em que vai receber Kalevi Ekma, o fundador da primeira “Fábrica” que inaugurou o conceito na Universidade de Aalto, Finlândia. O arranque das “cerimónias” vai ser feito à mesa de um "brunch", o “Breakfast at DF’annys”, servido pela presidente do IPP, Rosário Gâmboa. O ambiente de informalidade que se sente dentro desta PDF não é apenas aparente.

O IPP transformou-o num projecto voluntário – só participam os alunos e professores das sete unidades do IPP que assim o entenderem – e não há transacções financeiras para usar as instalações, que estão dotadas de auditórios, estúdios, salas de trabalho. “O pagamento é feito em conhecimento: 5% do tempo em que aqui estão tem de ser usado para prestar apoio a outros projectos”, explica Rui Coutinho. Ainda assim, ou, melhor dizendo, porventura por causa disso, o ambiente informal recebe “um projecto pedagógico rigoroso”, como refere Rosário Gambôa, enaltecendo o clima de precipitação e de aceleração de ideias em projectos concretos, que encontrou em Aalto e que já está a ver replicado no Porto, e que se manifesta “numa vertente crucial no ensino superior, que é articulação com o meio envolvente, nomeadamente o empresarial”.

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Rosário Gâmboa, presidente do IPP Paulo Pimenta

O modelo criado em Aalto já provocou quase uma dezena de réplicas. Depois da Finlândia e das cidades de Shangai (China), Melbourne (Austrália) e Santiago (Chile), o Porto é a quinta a receber uma “fábrica” que, apesar do nome, só tem a ver com o design enquanto disciplina que permite o desenvolvimento de um produto, mas que, no Porto, até já está a dar passadas largas no âmbito do empreendedorismo e da inovação social. Depois do Porto acrescentar-se-ão à rede a cidade de Genebra (Suiça) – o famoso CERN, onde está a ser desenvolvido o famoso acelerador de partículas, é o próximo instituto – seguindo-se Seul (Coreia).

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A estrutura desenvolvida pela Alto Design Factory é, para Rosario Gâmboa, a “estrutura transversal que permite o óbvio”. “Se temos alunos com conhecimentos em áreas diversas – os que sabem de negócios, os que têm competências tecnológicas no que diz respeito às várias engenharias, os que têm muita criatividade e estão mais ligados aos percursos artísticos, etc. –, porque não juntá-los e permitir uma estrutura transversal onde se possam potenciar uns aos outros, ainda que com orientação? É isso que aqui estamos a fazer”, enumera a presidente, que diz ter ficado especialmente agradada com a adesão que a PDF está a ter no meio do universo estudantil. “Ainda mal inaugurámos, e já temos muita gente a querer passar por cá”, avisa.

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"Não há lugares reservados para sempre"

“Passar por cá” é mesmo a expressão já que, explica Rui Coutinho, a ideia não é permitir que os projectos e as pessoas “se instalem”. “Não há lugares reservados para todo o sempre”, argumenta, apontando para o seu próprio computador (“o meu escritório”) – que agora está na mesa da cozinha, mas que poderá vir a estar em qualquer outro lado. Muito diferente, pois, do conceito habitual de incubadora de empresas. “Porque não é de uma incubadora de empresas que se trata, apesar de admitirmos que há empresas que possam nascer aqui”, argumenta Coutinho.

Apresentar um dos projectos que já está instalado na PDF ajuda a perceber melhor o conceito: o MUDEI, acrónimo de “Música, Design e Engenharia para a Inovação e Internacionalização” e que resulta de uma parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (Brasil), a Universidade Hradec Králové (República Checa), Universidade de Salamanca (Espanha) e a Nottingham Trent University (Reino Unido), todas elas organizações que têm alunos em mobilidade a estudar no IPP.

O projecto visa a prototipagem de seis “novos” instrumentos musicais. Os alunos de composição da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE) foram desafiados a compor uma peça para um instrumento musical que ainda não existe e os alunos do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e da Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão (ESEIG) estão a desenvolver esses mesmos instrumentos.

Por exemplo, o Cubo Musical idealizado por Nuno Lobo ou a marimba electrónica idealizada por Miguel Neto, e que Daniela Grahams , do ISEP, e Wellington Haas, aluno do curso de Técnico de Informática do Instituto de Santa Catarina estão a tentar desenvolver. “O mais difícil de tudo foi perceber bem o que eles [os músicos] queriam. Mas com algumas explicações lá conseguimos perceber”. O protótipo está em curso, que a PDF tem laboratórios para isso, nomeadamente o ThirdShape, o onde se faz o desenvolvimento de impressoras 3D inovadoras. Outros laboratórios já em funcionamento na PDF são o de Inovação Social e Desenvolvimento Regional, onde estão “Instaladas” "startups" especializadas em inovação social, com projectos como o RIOS ou Places4All, ou ainda um Laboratório de Electro-Acústica (e que tem sido muito útil para testar o desempenho dos novos instrumentos).

A Porto Design Factory vai também permitir a integração do Politécnico do Porto no Programa ME310, apresentando como o "melhor curso de desenvolvimento de produto do mundo", da Universidade de Stanford, na Califórnia. Trata-se de uma pós-graduação que vai integrar quatro equipas de sete alunos (em cada uma delas haverá quatro do IPP e três de Stanford) que vão receber o "briefing" de uma empresa a elencar-lhes uma necessidade, e que terão um ano para conceber, desenvolver e prototipar uma solução que seja funcionável e escalável. Rui Coutinho antecipa que a área onde vão surgir os pedidos empresariais serão no campo dos dispositivos médicos.

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