Tremor: quando Ponta Delgada se tornou o epicentro da música

Ponta Delgada rendeu-se ao Tremor e o Tremor à cidade. Os rostos foram tornando-se familiares. Amigos, conhecidos, desconhecidos depressa se transformaram na família Tremor

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Vera Marmelo

Sem saber para onde iam e a que concerto iam assistir, cerca de seis dezenas de pessoas concentraram-se na Av. Infante D. Henrique à espera de um autocarro que depressa ultrapassou a sua lotação. Estava dado o primeiro passo e o Tremor começava na Fábrica de Chá da Gorreana, com os norte-americanos Bitchin’ Bajas, para o TREMOR na Estufa.

A afluência sucedeu-se e cresceu. Os rostos foram tornando-se familiares. Conhecidos e desconhecidos transformaram-se em família, marcando presença assídua nos quatro dias do evento. A cidade vibrava, tinha sido efectivamente tomada de assalto. As ruas estavam cheias e o público seguia cada etapa do programa Tremor com rigor. Afinal, tanto havia para fazer e não podíamos perder nenhum momento.

28 de Março, com tempo perfeito para percorrer as artérias do centro histórico da cidade de Ponta Delgada. Da manhã reservada para os mais pequenos, com o espetáculo Du-Dé-Du, depressa se caminhou para os 22 concertos e para a confusão. E que confusão! São tantas as pessoas que é difícil não questionar por onde andamos durante o resto do ano. Foram pais de mão dada com os filhos; casais, jovens com uma curiosidade e interesse sobre cada concerto indescritíveis; adultos e jovens adultos. O Tremor prometeu e cumpriu. Foi mesmo para todos: dos 0 aos 80 anos.

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Isabel Alves Coelho, natural de Ponta Delgada, Isabel é jornalista desde 2002. É responsável editorial da Yuzin- Agenda Cultural

Os concertos esgotavam. O público fazia fila e aguardava pacientemente a oportunidade para entrar em cada espaço. É difícil escolher o grande momento do Tremor, aquele que faz sentir o arrepio e a pele de galinha.

Desde os ON, que atuaram no ¾ Hostel, passando pelo Cantinho dos Anjos com a guitarra de Emanuel Paquete; o renovado Louvre Michaelense com Lucrecia Dalt; a loja Londrina com a energia de Emperor X; o centenário Ateneu Comercial com Duquesa; A Tasca com Alexandre Soares; o HC Bar&Lounge que recebeu na sua cave os Broad Beans; a Travessa dos Artistas com Bandido e o Coração Pirata; a Refinaria com King John e o reaberto Auditório Luís de Camões com o Bitchin Bajas. A multidão e o entusiasmo pareciam multiplicar-se a cada concerto.

A noite começava com Bruno Pernadas no Teatro Micaelense. O cansaço era visível em algumas faces, mas nada fazia demover os cerca de mil membros desta cada vez maior família Tremor. Ainda há muita música para ouvir e o cenário da Igreja do Colégio revelou-se perfeito para Medeiros/Lucas. O Coliseu Micaelense encheu-se com Moullinex Live. E não podemos esquecer aquilo que só o Tremor conseguiu: as duas maiores casas de espetáculos da cidade – Teatro e Coliseu - acolheram, pela primeira vez, o mesmo evento e o mesmo público.

É possível superar tudo o que já aconteceu? Sim. E a organização não deixou nada ao acaso. Os espanhóis ZA! provaram isso mesmo num Solar da Graça que estremeceu e regressou à sua velha glória.

Black Bombaim, Sensible Soccers e Cpt. Luvlace, na Academia das Artes, deram-nos a certeza de que o Tremor oferecia boa música, sem interrupções e até altas horas da madrugada. Foi o culminar de um dia inesquecível, o êxtase de um público que teimava em não ir para casa.

Ninguém ficou indiferente. As expetativas foram superadas e Ponta Delgada renasceu de um inverno moribundo. As lojas, os restaurantes, os cafés ganharam vida e novo fôlego. O público tremeu literalmente e quer mais! Nas redes sociais, nos convívios, o Tremor já deixa saudades. Vai ser difícil regressar ao dia a dia e não há palavras que consigam descrever o que foi verdadeiramente sentido. Fica a certeza de que em 2016 haverá novas bandas, novos espaços e mais Tremor em Ponta Delgada.

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