Imagina uma vida

Esquece as fronteiras que outros desenharam – o que são, afinal, as fronteiras, se não apenas linhas imaginárias nas quais todos concordámos, em algum ponto da História, em acreditar?

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Camdiluv

Imagina uma vida. Imagina, só. Ao acaso, uma vida qualquer. Em nada igual à tua, em muito idealizada. Diz a ti mesmo, eu gostava de ser assim, de estar ali, de fazer aquilo. Já está? Óptimo. Agora desprende-te. Desaperta o cinto, solta-te das amarras e liberta-te de qualquer autocensura que se possa atravessar no teu caminho. Quando ouvires essa vozinha diminuta proferir impropérios como “tu não és capaz, desiste”, atira-a de um penhasco abaixo. E dá o primeiro passo.

Se estás feito refém no interior das tuas próprias armadilhas, respira fundo e olha em teu torno. Talvez haja uma necessidade de mudança, ainda antes da necessidade de acção. Mudança de caminho, de definição, de atitude. Mudança tua, não dos outros: os outros, esses, serás tu a mudá-los. Mas tudo a seu tempo. Por agora, o teu comportamento mudará com uma alteração das tuas crenças. Alguém dizia que a definição de loucura é fazer sempre as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. Estuda, observa, analisa, mentaliza-te. Agora sim, já te podes mexer.

Esquece as fronteiras que outros desenharam – o que são, afinal, as fronteiras, se não apenas linhas imaginárias nas quais todos concordámos, em algum ponto da História, em acreditar? Risca-as, limpa o mapa de rabiscos desnecessários, a terra é tua. Planta onde te apetecer, mas cuidado com as ervas daninhas. Não as quererás no teu jardim – nem nos dos outros. Arma-te em artista: tela em branco, pincéis acabados de comprar, tintas ainda por abrir. E agora visualiza o que queres, pinta sem medos de esborratar o esboço: afinal de contas, a vida sempre é um portefólio de rascunhos. E alguns, de vez em quando, saem bem à primeira.

Não desenhes, todavia, o teu destino final. Não pintes o quadro perfeito que esperas apreciar quatro segundos antes do suspiro derradeiro. Não. Porque sem mais caminho para onde andar, estagnas, perdes-te, morres. E depois? Depois não há depois. Há nada, há vazio. Desenha, portanto, um percurso, com todos os sulcos e buracos no pavimento, com todos os dias de chuva e desalento que te hão-de pôr à prova. Aprende com o falhanço. Mede também o alcance dos teus sucessos, que também os hás-de ter.

Quando estiver pronta a obra, faz-te mestre de ti mesmo. Traz vida à arte. Mexe-te. Leva a bagagem necessária. Talvez uma maçã no bolso não seja demais também. Segue. Sem olhar para trás, para o que eras, ou para o que poderias ter sido. Mantém os amigos perto, mas não abandones os inimigos, em especial aqueles que te dizem que não conseguirás fazer o que muito bem entendes. Um dia, dar-te-ão jeito para praticares a pontaria ou, apenas e só, para uma bela tarde de alegre (e metafórico) tiro ao alvo. Diverte-te. Aprecia cada passada mas mantém o foco. Mesmo que não saibas ao certo para onde vais, reconhecerás o lugar quando lá chegares. Boa viagem.

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