Robôs: aos pontapés na Humanidade

O vídeo da Boston Dynamics, que mostra um robô a ser "agredido" ao pontapé, provocou reacções diversas. Sim, é uma máquina, não sente dor ou emoções, e sim, pontapear algo é quase sempre um gesto violento, mesmo que seja um objecto inanimado como um caixote do lixo ou uma porta

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Fiquei intrigado pela reacção ao curto vídeo da Boston Dynamics, agora propriedade da omnipresente Google, onde são protagonistas vários robôs quadrúpedes e onde um deles é “agredido” por duas vezes ao pontapé, por um técnico de mãos nos bolsos (era uma manhã fria).

Houve "feedback" negativo dos dois extremos da curva de sino, uns porque era apenas uma máquina e outros porque era uma agressão ao bicho-máquina. Na minha salomónica opinião, ambos têm razão, sim, é uma máquina, não sente dor ou emoções, e sim, pontapear algo é quase sempre um gesto violento, mesmo que seja um objecto inanimado como um caixote do lixo ou uma porta.

Imagino o que mais tenha chocado os defensores dos direitos dos animais, entre os quais me encontro — aqui fica o "disclaimer" — seja, mais do que o aspecto do robô, que poderia ser qualquer tipo de animal quadrúpede daquele porte, cão, ovelha, cabra ou um potro, mas o facto de a máquina e sublinho, a máquina, ter reagido ao “input”, chamemos-lhe assim, do técnico, e meio desastradamente, com as patas ainda a escorregar, tenha tentado voltar à posição inicial, o que, aliás, conseguiu. Como tal, parecia mesmo um ser vivo recém-nascido, como se veem nos documentários, onde a jovem gazela ou gnu se tenta equilibrar, meio desastradamente e como o robô, nas suas quatro patas pela primeira vez. E nós não estamos (ainda) habituados a ver máquinas a comportarem-se daquela forma, como verdadeiros seres vivos.

Quem já não se chateou com alguma das máquinas com que interagimos quotidianamente, quer sejam de "vending", de fotocopiar, automóveis, computadores, ou tantas outras, e lhes chamou, sem pensar nisso, nomes menos próprios? Ou lhes suplicou para continuarem a funcionar sem problemas? Quem já não atirou, ou pensou em atirar, o comando depois de perder num jogo de vídeo? Embora já não se veja tanto, cortesia dos écrans finos, em tempos muitas pessoas pensavam que umas “pancadinhas de amor” no monitor do computador o faziam ser mais obediente… Neste caso não era um acto lógico mas todos compreendemos o porquê, ou seja, a lógica emocional por detrás do gesto, afinal de contas, somos humanos também.

Usando esta mesma lógica emocional será que podemos acusar os activistas dos direitos dos animais de antropomorfizar em demasia esta situação? Sim, claro que sim. (Afinal de contas, e ao final do dia, não deixa de ser uma máquina.) Se podemos culpá-los por isso ou de alguma forma repreende-los? Claro que não, a sua indignação apenas mostrou que continuam com o coração no sítio certo.

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