Hugo criou uma tinta de baixo custo que imprime circuitos electrónicos em papel

Estudante da Universidade de Aveiro desenvolveu uma tinta que permite a impressão caseira de circuitos electrónicos em papel ou plástico: basta ter uma impressora a jacto normal ou, então, usar uma caneta tipo marcador

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Circuitos electrónicos impressos em papel são mais baratos e mais leves do que os convencionais

Hugo Miranda tinha um problema: para conseguir trabalhar na tese de mestrado, sobre radiofrequência, precisava de fazer protótipos rápidos de etiquetas inteligentes. Os preços e a demora no processo de fabrico das placas electrónicas necessárias não lhe agradaram e, então, decidiu criar uma alternativa. Com uma impressora convencional e uma tinta alterada para se tornar condutora, Hugo e Hélder Machado conseguiram imprimir circuitos electrónicos em papel fotográfico que podem ser utilizados em drones, sensores, antenas e etiquetas inteligentes.

“Inicialmente, alterámos a impressora para podermos usar algumas tintas disponíveis, mas tínhamos sempre alguns problemas. Então começámos a pensar ao contrário: a alterar a tinta, de maneira que funcionasse em qualquer impressora”, explica Hugo, 24 anos, ao P3. A tinta que o jovem de Barcelos desenvolveu é constituída por nanopartículas de material condutor, depois de um processo de alteração dos níveis de viscosidade. O resultado é uma tinta única e de baixo custo que transforma uma superfície normal num circuito electrónico.

As placas electrónicas tradicionais, verdes, podem levar até uma semana a serem fabricadas, “por causa dos processos químicos”. Com esta tinta feita na Universidade de Aveiro (UA), as placas são criadas na hora. “Basta fazer o circuito que queremos, desenhar, mandar imprimir no substrato que quisermos — o mais convencional é o papel fotográfico — e está pronto a ser utilizado”, descreve o estudante de Engenharia Electrotécnica e Telecomunicações da UA. Um componente que pode chegar a custar 50 euros fica, assim, por apenas alguns cêntimos.

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Hugo Miranda tem 24 anos e é finalista do mestrado em Engenharia Electrotécnica e Telecomunicações da UA

Além do preço significativamente mais baixo, estes circuitos são ainda mais leves, característica que se reflecte num menor consumo energético do aparelho em que estão inseridos. Drones mais leves e mais baratos e sensores impressos directamente nos objectos (ou até em paredes de casas inteligentes) são alguns dos benefícios de uma tecnologia que não é nova, sublinha.

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Os drones podem beneficiar desta tecnologia de baixo custo

Tornar uma tecnologia acessível

“O que nós fizemos foi algo semelhante ao que aconteceu com as impressoras 3D, que também já existem há mais de 20 anos, a nível industrial, mas que sempre foram muito caras”, continua Hugo. “Conseguimos reduzir o preço para que qualquer pessoa, em casa e de maneira amadora, possa usar a tecnologia.” Agora existe uma alternativa na ordem dos 50 euros às impressoras industriais de tinta condutora, com preços a rondar as dezenas de milhares de euros.

Com a tinta já disponível — ainda que em processo contínuo do melhoramento — é possível imprimir em papel, plástico e até vidro. “Também já fazemos canetas: colocamos a tinta em marcadores, que desenham no papel e o circuito pretendido e o transformam numa superfície condutora”, revela o finalista de mestrado. Esta opção tem tido boa aceitação, sobretudo da parte de escolas, razão pela qual Hugo pensa em criar um kit didáctico da caneta.

O mercado espacial também está na mira do jovem, uma vez que o desenvolvimento de drones biodegradáveis é algo falado na área. A preocupação em não poluir o espaço — patente no esforço realizado em Marte — traduz-se num interesse por tecnologias leves, duradoiras e amigas do ambiente. “A tinta ainda tem componentes pesados, porque usa material metálico condutor, mas segundo estudos que se têm realizado pode ser aplicada em papel reciclável”, garante.

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