A selecção nacional convocada pela galeria Underdogs

Onze artistas urbanos portugueses mostram dentro de portas o que de melhor se faz com inspiração nas ruas. “Soma — um retrato actual da arte contemporânea de inspiração urbana em Portugal” está na galeria Underdogs até 23 de Dezembro

 Alexander Silva
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O número 56 da Rua Fernando Palha, em Lisboa, parece um armazém abandonado, mas atrás da porta de ferro verde esconde-se uma galeria de arte, onde, a partir de hoje, 28 de Novembro, estão expostos trabalhos originais de onze artistas portugueses. Uma verdadeira selecção nacional convocada por Pauline Foessel e Alexandre Farto, que o mundo conhece como Vhils, os mentores da plataforma Underdogs.

As paredes brancas estão agora preenchidas com telas da melhor arte de inspiração urbana que se faz em Portugal. O artista mais novo tem 21 anos, o mais velho 40. Alguns começaram pelo graffiti outros pelo design gráfico e a ilustração. No trabalho que fazem têm em comum a urbe como inspiração.

A escolha dos 11 convocados “não foi fácil”, confessou Pauline Foessel ao P3. Era ponto assente que teriam que ser artistas portugueses, que tivessem trabalhos diferentes uns dos outros, mas que dessem uma ideia de unidade. “Não é óbvio perceber-se que isto nasceu da rua”, comentou Pauline. E não é. Por exemplo, quando se olha para as telas a preto e branco de Pedro Matos, um artista “mais conceptual que trabalha com papel rasgado e com muitas sombras e detalhes”, mas que começou pelo graffiti.

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Um retrato urbano de Portugal

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Em “Soma – um retrato actual da arte contemporânea de inspiração urbana em Portugal” está também representado um estilo mais politizado, através dos trabalhos de Miguel Januário, com o projecto ±MaisMenos±. Uma bandeira da União Europeia de onde caem cinco estrelas, “as que representam os PIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha)” e uma outra de Israel, rodeada por um muro, são dois dos trabalhos expostos na galeria.

As telas “com movimento” de Arraiano, “que se inspira muito em mapas e imagens de corte da Terra”, também lá estão. De Addfuel, que reinventou o clássico azulejo, há três telas: uma feita com azulejos, outra que mistura azulejos e madeira e uma outra só com madeira. Vistas de longe parecem as três painéis de azulejos clássicos. A ideia, explicou Pauline, “é fazer transformação e mostrar a frustração de trabalhar com azulejos, que estão sempre a partir-se e dar a madeira como alternativa”.

A madeira foi a base do trabalho de Mário Belém, que criou um casal de idosos, de frente um para o outro, pintados e recortados naquele material, ao qual recorreu também Dwelle, de 21 anos, um “jovem e promissor” artista “que se inspira muito em tribos africanas”.

Nas telas de Mar consegue ver-se o universo “imaginário” com que já pintou algumas paredes em Lisboa, e noutros locais. Os corações de Maria Imaginário, “que trabalha muito a ideia de vazio”, também estão nas paredes da Underdogs, assim como uma tela de Pantónio, “que anda a correr o mundo” com os seus trabalhos onde o mar está muito presente.

O futuro da Underdogs

Quando o P3 visitou a exposição, ainda não estavam pendurados os trabalhos de AkaCorleone, recém-regressado de uma temporada de seis meses na Tailândia, nem de Wasted Rita, mas Pauline levantou um pouco o véu. As peças de AkaCorleone serão em plexiglass, como já tinha feito na exposição a solo que teve este ano na galeria, e as de Wasted Rita “são três peças escritas”, que, imaginamos nós, devem ter o habitual tom provocatório ou humorístico, dependendo do ponto de vista, dos trabalhos desta artista.

Além de fazer um ponto de situação da arte de inspiração urbana em Portugal, “Soma” pretende também mostrar o que a Underdogs tem programado para 2015, ano em que a plataforma estará “mais concentrada nos artistas portugueses”. Pauline Foessel contou ao P3 que em Outubro há nova exposição de ±MaisMenos± e em Novembro uma de Maria Imaginário. Ainda sem data marcada está uma exposição de Pedrita, dupla composta pelos designers Rita João e Pedro Ferreira, “que irão fazer peças em azulejo”.

Já para Janeiro está programada uma mostra do artista brasileiro Finok. No próximo ano regressam também as pinturas fora de portas, como as que a dupla norte-americana How&Nosm ou o colectivo brasileiro Bicicleta sem Freio deixaram por Lisboa, embora a ideia seja “não fazer apenas pintura, mas também instalações”.

Mas até ao final deste ano há mais novidades da Underdogs. A 4 de Dezembro é inaugurada a loja de arte no Mercado da Ribeira, em Lisboa, uma outra maneira de “trazer a rua para dentro”. Ali será possível comprar-se serigrafias de vários artistas, portugueses e estrangeiros, incluindo dos 11 convocados para a selecção nacional de “Soma”.

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