Hungria: não se acreditam no fantasma de Hitler?

O comportamento do líder húngaro vai ao encontro do autoritarismo russo e chinês e, como consequência, podemos estar perante uma 4.ª via política

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Freenerd/Flickr

A Europa encontra-se numa encruzilhada e, cada vez mais, dá sinais de ser uma locomotiva velha e sem rumo. Porquê? Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, trouxe uma nova palavra para o vocabulário político: “Iliberal” (veja-se a seguinte declaração do mesmo: “Nesse sentido, o novo Estado que estamos a construir na Hungria é um Estado iliberal, não liberal”. Orbán é um cancro no seio europeu, tal como foi Adolf Hitler na Europa fragilizada do pós-Primeira Guerra Mundial. Mas não é único.

O comportamento do líder húngaro vai ao encontro do autoritarismo russo e chinês e, como consequência, podemos estar perante uma 4.ª via política. Sim, esta via representa o mundo contemporâneo de hoje, ou seja, é a camuflagem da indecisão decidida, sendo tudo e nada ao mesmo tempo, todavia há uma característica passível de identificação desta forma de organização de Estado: uma certa agressividade do culto do líder em moldes nacionalistas, proteccionistas e anti-demoliberais, herdada dos regimes da extrema-direita de Hitler e Mussolini.

A crise económico-financeira traz os fantasmas do “eixo do mal”. É bom não esquecermos o que aconteceu nas últimas eleições europeias (com vários partidos da extrema-direita a conseguirem resultados históricos, do quais se destaca a “Frente Nacional” de M. Le Pen). Por outro lado, o recrudescer imperialista de Putin que, através do seu domínio económico e político, coloca a Europa como uma espécie de casa assombrada com os velhos medos e ódios, ou seja, destapa todas as fraquezas da Nova e Velha Europa em simultâneo. Não devemos subestimar o aumento de testes nucleares e as várias “viagens” dos bombardeiros russos, nem tão pouco ignorar o discurso de Orbán. Os mesmos que afirmam que isto não se trata de um perigo igualam, certamente, os mesmos que consideraram Hitler como um idiota inofensivo na sua época.

A Ucrânia como pretexto

Por sua vez, culpabilizar a Europa pela questão ucraniana é precipitado. A questão da Ucrânia não passa de um pretexto, da mesma forma que o Tratado de Versalhes de 1919, imposto à Alemanha, também não passou de um pretexto para legitimar avanços beligerantes. Não esquecendo, também, a guerra de sanções declarada pelos EUA e UE à Rússia (entre essas medidas está o impedimento da Rússia aceder aos mercados de capitais dos EUA e UE). A violência e a agressividade hão-de precisar sempre de uma palavra ou acto de legitimidade.

O isolacionismo de Obama representa outro sintoma de vulnerabilidade, ainda mais quando se percebe que o projecto europeu não dá garantias de uma verdadeira União Europeia. O fanatismo de Angela Merkel pelo estaticismo e pela imposição da austeridade sem fim aos vários estados membros, as fracas lideranças políticas (que se deixam superar pelos financeiros), o degaste e possível saída do Reino Unido da UE, são motivos para se vaticinar uma morte anunciada.

Não se acreditam no fantasma de Hitler? Ignorar algo que se não quer acreditar, por vezes, não é o caminho.

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