“Live. Die. Repeat”

Será a gíria verdadeira? Será que de facto, após tantos êxitos cinematográficos apenas à custa do nome e boas estratégias de marketing, o actor, Tom Cruise, tem agora o seu bom trabalho deixado de lado?

Foto
BagoGames/Flickr

“Edge of tomorow” tem um balanço forte e raro dentro do género de ficção científica. É necessária uma dose equilibrada de condição humana misturada com o inacreditável para que o género de facto funcione em pleno, e é isto que acontece neste caso.

 

O filme, em última instância, não se debruça sobre o destino da humanidade face à invasão dos Mimics (aliens com poderes temporais que funcionam como um único só organismo), mas sim do desenvolvimento dum covarde “marketeer” num improvável herói.

 

Cage (Tom Cruise) começa como alguém que num cenário apocalíptico conseguiu tirar proveito da performance de outros para se por à margem da batalha. Ou seja, na batalha humana contra a invasão alienígena, a primeira vitória teve lugar em Verdun (França, também o lugar de uma importante ofensiva na primeira guerra mundial), sendo protagonizada por Rita (uma irreconhecível Emily Blunt, que perdeu toda a sua classe inglesa para se tornar numa máquina de batalha sexy e loira). Com isto Cage, encarregue pela propaganda militar, influencia os media, e consegue então manipular milhões para se alistarem numa derradeira ofensiva contra os mimics. E é aqui que se dá o “plot twist” e o filme começa.

 

Sem querendo “spoilar” demasiado, Cage fica preso num “loop” em que vive todos os dias o mesmo dia (o dia da ofensiva final) até que um dos lados seja derrotado.

 

A primeira parte, ou arco, do filme resolve à custa disto. Tem um ambiente cómico e ligeiro, e serve para explicar à audiência o contexto e o desenrolar da acção que é feito em saltos, episódios (ou dias), cruciais para explicar o desenvolvimento da personagem.

 

Chegando ao segundo arco, o covarde desajeitado torna-se confiante, e cresce nele uma ternura (muito bem executada por parte de Cruise) de quem viu a morte demasiadas vezes. Sobretudo a morte de alguém que se vai tornando querida aos olhos Cage, ainda que ele a conheça muito melhor do que ela a ele. Emily Blunt, mantendo toda a agressividade e integridade da personagem, consegue mesmo assim mostrar fragilidade, uma esperançosa que retrata a debilidade da vida humana que com pouco se apaga mas que com tudo se recusa a desistir. A relação entre as duas personagens floresce de maneira natural, e sem pressões “Hollywoodescas” para um cariz sexual. Não é platónica, como numa comédia romântica, ou como seria de esperar de um filme de heróis, mas sim calma e progressiva, dentro de uma realidade de sangue, morte e aço, como se fosse um segredo a que nenhum deles tem direito.  

 

Este segundo arco é mais curto, e consiste basicamente numa cena ou duas entre uma viagem na estrada e um único momento de serenidade numa casa abandonada, em que as duas personagens estão pela primeira e ultima vez verdadeiramente sozinhas. É curto, mas é crucial, e para os mais atentos na prestação de Cruise, é o que sustém o filme. Pois na verdade, o terceiro arco é muitas vezes o mais previsível, apenas imprevisível na maneira em que se o executa. O realizador, Doug Liman, que brilhou em todo o filme “Edge of Tomorrow”, mas especialmente aqui (Já de esperar do realizador de “Mr. e Mrs. Smith” e “The Bourne Identity”), faz com que o filme atinja uma apoteose visualmente exuberante com um ritmo acelerado que nos deixa na ponta da cadeira.

 

Não vou contar o fim, (talvez um bocadinho, mas só para os mais entendidos), mas há que atentar na última cena… temos uma prestação de Cruise que deixa o já lendário “Jerry Maguire” a um canto, e que mais que tudo, nos deixa com uma satisfação e um sorriso como só os bons filmes deixam.

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