Facebook pede desculpa por ter apagado perfis de drag queens

Empresa promete tratar denúncias pelo uso de nomes falsos “de forma menos abrupta e mais ponderada”

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Reuters

A política de “nome verdadeiro” do Facebook, umas das regras de utilização de que a rede social faz gala, criou no mês passado um delicado problema de relações públicas. A empresa suspendeu “várias centenas” de perfis de drag queens, que se identificavam através de nomes artísticos, provocando veementes protestos destes e de outros utilizadores. Nesta quarta-feira, sentiu-se obrigada a apresentar um pedido público de desculpas.

“Quero pedir desculpa à comunidade afectada de drag queens, drag kings, transgénero, e à extensiva comunidade dos nossos amigos, vizinhos e membros da comunidade LGBT, pelas dificuldades que vos criámos ao longo das últimas semanas para lidar com as vossas contas no Facebook”, escreveu o director de produto da empresa, Chris Cox, num post no Facebook.

Chris Cox estendeu-se por quase 600 palavras num acto de contrição, sacudindo dos ombros da empresa tanta responsabilidade quanta lhe foi possível. O responsável do gigante norte-americano disse que “um indivíduo decidiu denunciar como falsas várias centenas de contas” e que essas denúncias se imiscuíram entre as “centenas de milhares” de denúncias que a empresa trata semanalmente. “A forma como isto aconteceu apanhou-nos desprevenidos.”

O que estava em causa era o recurso por parte destes utilizadores a nomes artísticos e não a nomes reais – isto é, os que constam nos seus cartões de identidade, como exige o Facebook nas suas regras: “O nome que utilizares deverá ser o teu nome verdadeiro, conforme aparece no teu cartão de crédito, na tua carta de condução ou no teu cartão de estudante”.

Nesta quarta-feira, na sequência de um segundo encontro entre representantes do Facebook e dos utilizadores afectados – que incluía osupervisor de São Francisco, David Campos –, a empresa sentiu necessidade de reiterar a bondade e os méritos desta política, mas deu um passo atrás. Um passo para o “espírito da lei”: “O espírito da nossa política é que toda a gente utilize no Facebook o nome autêntico que usa na vida real”, explica Chris Cox.

Esta mudança da obrigatoriedade de usar o “nome verdadeiro” para a possibilidade de recorrer a um nome “autêntico” vai obrigar o Facebook a fazer alguns ajustes. Cox anuncia no seu post – de que Mark Zuckerberg, que não participou directamente nas reuniões, “gostou” – que já começaram a trabalhar no desenvolvimento de “melhores ferramentas para autenticar as Sister Romas deste mundo, sem abrir as portas do Facebook a agentes nocivos”.

Sister Roma é uma das drag queens que promoveram o protesto e lançaram a campanha #mynameis, a hashtag que tem servido para reunir o debate à volta deste assunto. Lil Miss Hot Mess, outra drag queen que tomou a dianteira, disse ao Guardian que esta era uma “grande vitória” não apenas para as drag queens, mas para “inúmeros outros” cujos “nomes nem sempre coincidem com os seus cartões de identidade”.

Para já, enquanto os novos mecanismos de controlo de autenticidade não chegam, Chris Cox promete que a empresa tratará denúncias por uso de nomes falsos “de forma menos abrupta e mais ponderada”. Até por uma questão de sobrevivência: apesar dos seus mais de mil milhões de utilizadores, o Facebook não está livre de uma debandada – segundo o Daily Dot, este episódio já lhe valeu um “êxodo” da comunidade LGBT para o Ello, uma nova rede social.

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