Estes candeeiros portugueses são origamis solidários

Quatro arquitectas portuguesas criaram uma colecção de candeeiros feitos segundo a arte do origami, aliando assim uma técnica secular japonesa ao design moderno

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Um candeeiro tridimensional feito em papel, sem cortes ou colagens. Assim são os artigos de iluminação do atelier de arquitectura blaanc , onde as arquitectas portuguesas Ana Morgado, Lara Pinha, Carmo Caldeira e Maria da Paz Braga recorrem à arte tradicional japonesa do origami para criar objectos de design. 

A colecção de iluminação da blaanc — que se chama Orikomi e nasceu em Novembro de 2013 — conta, para já, com dois produtos: os candeeiros e três invólucros para velas. Os candeeiros Orikomi podem ser de uma só cor ou de duas e podem ainda ter uma frase escolhida pelo cliente.

”O papel é um material que as pessoas não associam à iluminação, mas que acaba por resultar numa peça muito tridimensional”, nota Carmo Caldeira. À primeira vista, pode parecer perigoso construir um candeeiro para lâmpadas eléctricas com um material combustível como o papel. Contudo, Carmo garante que “basta utilizar uma lâmpada de baixo consumo, porque aquece menos”. A arquitecta sublinha ainda que a lâmpada não fica em contacto com material. O tipo papel utilizado em ambos os artigos é o cartão — apesar de este tipo de papel ser mais resistente não énecessariamente não inflamável. 

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Suportes para velas DR

Este projecto, apesar de ter uma componente solidária muito vincada, quer sobressair-se na área da arquitectura. “Este é um projecto do atelier e tem a sua própria identidade. Nós somos uma marca e queremos crescer”, explicou ao P3 Carmo Caldeira, uma das arquitectas da blaanc.  Nós gostávamos de criar novos produtos na linha Orikomi. O origami é uma técnica que tem muito potencial e que pode vir a ter muitas variantes”, acrescenta.

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Maria do Carmo, Lara Pinho e Ana Morgado

Até ao momento ainda não existe nenhuma loja física no país que tenha à venda estes candeeiros, tendência que as arquitectas querem ver contrariada, de maneira que já estão a fazer negociações neste sentido. Os candeeiros podem ser adquiridos, em Portugal, no site Etsy ou no próprio atelier da marca, situado em Lisboa.

No estrangeiro há mais aposta neste projecto. Existe uma loja física em Londres que vende os produtos e duas lojas online que também os têm à venda (a Fab, nos EUA, e a Monoqi, na Alemanha). Os candeeiros custam entre 45 e 60 euros.

Candeeiros que ajudam mulheres mexicanas

As criadoras argumentam que, mais do que um objecto de design, os candeeiros são também uma iniciativa solidária. Isto porque esta linha de produtos apoia mulheres mexicanas abandonadas, através da doação de “cerca de 5 a 10% das receitas” para a associação Adobe for Women.

A associação Adobe for Women foi criada em 2011 pelas quatro arquitectas, juntamente com os arquitectos João Caeiro e Fulvio Capurso que trabalham no México. É uma associação sem fins lucrativos que ajuda mulheres mexicanas a construírem a sua própria casa com materiais locais.

“O que acontece no México é que a maior parte dos homens emigra e depois acaba por não regressar”, explicou Carmo. A partir desta problemática social nasceu a vontade de fazer algo por estas mulheres, algo que está dentro das competências das arquitectas: o planeamento e construção de casas. O projecto tornou-se possível por terem “uma equipa fixa” no México que auxilia as mulheres na construção. “A única condicionante é que as mulheres tenham um pedaço de terra onde possam construir”, sublinha a arquitecta.

O objectivo inicial da associação era construir 20 casas. Cada uma com três quartos, uma cozinha, uma casa-de-banho e uma sala. A estimativa de custo final de cada casa centrava-se nos 3830 euros. Até ao momento as expectativas foram superadas, estão 21 casas construídas, têm chão, paredes e tectos. “Em algumas ainda faltam janelas, por isso é que é importante o contributo de todos, 5 euros dão para comprar uma janela”, refere Carmo.

Depois de tentarem angariar dinheiro de várias formas, as arquitectas decidiram associar a colecção Orikomi a esta causa, doando parte das receitas das vendas para o México. Até ao momento já foram vendidos cerca de 700 candeeiros, comprados essencialmente por pessoas de fora de Portugal.

Texto editado por Andréia Azevedo Soares 

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