Quando é que nos tornamos adultos?

Durante décadas somos considerados jovens, depois passamos repentinamente a velhos. Será que isso contribui para perdermos uma parte importante do nosso potencial, no suposto auge da nossa vida?

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Benoit Tessier/Reuters

Quando é que nos tornamos adultos? Antigamente pensava saber responder a esta pergunta. Em criança pensava que era com 18 anos de idade. Depois percebi que a definição legal não correspondia bem à realidade — ao que se vive e se sente.

Apesar dos 18 anos terem feito de mim um cidadão responsável pelos meus actos, isso não significava ser completamente adulto. Ou pelo menos não me sentia assim. Talvez essa sensação chegasse depois quando fosse financeiramente independente, e quando terminasse o curso.

Quando comecei a trabalhar não me senti muito mais adulto. Era então o estagiário, o jovem inexperiente, tratado por todos quase como criança. Mesmo depois do estágio esse sentimento ficou sempre, pois os colegas mais experientes, direta ou indirectamente, alimentavam o mesmo sentimento. Obviamente que isso nem sempre é negativo, mas não ajuda a formar a noção de maioridade.

Crescendo a experiência profissional, com trabalhos de responsabilidade, parecia ser o facto de viver ainda em casa dos pais que não ajudava. Depois, mesmo com a independência material total perante os meus progenitores, parecia não se concretizar o sentimento de ser adulto. Agora parecia ser toda a sociedade, no geral, que ainda não me aceitava como tal.

Casei. Mas constituir um casal jovem e sem filhos parecia tornar-me menos adulto comparativamente para com os outros. Depois veio o bebé. Então notei já mais consideração, mas mesmo assim ainda me viam como um jovem, apesar de já ter passado dos 30. Fiquei então sem saber quando seria então finalmente adulto a 100%. Enquanto isso iam-me incutindo o medo de ficar velho.

Apesar de ter citado exemplos pessoais, usei, propositadamente, aqueles que me parecem ser comuns à maioria das pessoas. Afinal quando nos tornamos adultos? Já não existem rituais bem definidos, daqueles que marcavam vincadamente o acesso a esse estatuto social. Agora, pelo menos pela minha percepção individual, parece-me ser um processo contínuo até se atingir, supostamente, o tal estatuto (psicologicamente muito mal definido hoje em dia). Se calhar até já nem tem sentido usar o termo adulto (para além do estatuto jurídico). Agora parece que somos ou jovens ou velhos.

Onde andam os adultos, os homens e as mulheres? Será que os encontramos nos espelhos?

Durante décadas somos considerados jovens, depois passamos repentinamente a velhos. Será que isso contribui para perdermos uma parte importante do nosso potencial, no suposto auge da nossa vida? Qual o efeito individual e social resultante da sensação de viver nos extremos, ora jovens ora velhos? Não sei a resposta, talvez saiba quando for mesmo adulto.

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