A gelataria que quer dar nuvens de sabor ao Porto

Uma das novas gelatarias do Porto, a La Copa propõe mais de 20 sabores artesanais. Entre as prioridades, fruta da época em gelados com a maior percentagem de fruta possível ou chocolate 70% cacau

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A vitrina pode ser intimidante — e isso não é mau. “Tem tanta coisa”, exclamam as amigas que estão pela primeira vez na La Copa por sugestão das filhas, “mais a par dos novos roteiros”. Laureano Sousa, o senhor Sousa, como é mais conhecido, vem em auxílio: apresenta a carta, uma paleta colorida de fotografias hiper-realistas, e faz sugestões. A escolha acaba por ser uma das sugestões: crepe La Copa, duas bolas de gelado, chantilly e chocolate quente. Decisão da maioria, feita consenso sem problemas: “Elas é que andam nisto... Mas depois não janto”; “Se ela não comer, nós comemos”.

É na esplanada, nas traseiras (pedra e cercas de madeira a delimitar o espaço com mesas, uma pequena fonte e bicicletas antigas) que as três amigas se vão sentar a desfrutar os seus crepes, pratos abundantes. Neste final de tarde, têm alguma companhia no exterior, mais ainda no interior, perante taças ou pratos com gelados elaborados; mas mais são os que entram para sair pouco depois com cone ou copo de bolas (mais ou menos) coloridas. Quem passa na rua não evita deter-se — a fachada é quase toda transparente, dando vista para o espaço moderno com um toque vintage: o balcão, curto, prossegue com a “montra” dos gelados e acompanham grande parte do espaço aqui; sobra lugar para uma mesa redonda junto a um louceiro revisitado e a partir daqui o La Copa foge para as traseiras.

Abriu a 21 de Junho, esta gelataria a espreitar a Praça de São Lázaro — bem acompanhado, repetem-nos, pela boa comida das redondezas: da Casa Guedes aos cachorros da cervejaria Gazela —, mas a sua génese pode ter estado em Luanda, onde a proprietária, Maria Emília Ferreira, se lembra das visitas com o seu pai à gelataria Baleizão. “Ele não dizia ‘vamos à gelataria’, dizia ‘vamos ao Baleizão’, ‘baleizon’, entendia eu. Então, eu pensava que aquele doce gelado que ali se comia se chamava assim.” Na sua cabeça sempre pairou a ideia de abrir uma gelataria — e, já estamos em Portugal quando Maria Emília, cliente assídua da gelataria Sincelo, começou a “dar o toque” a um dos seus empregados, à laia de brincadeira, “Então, senhor Sousa, quando abrimos a nossa gelataria em Gaia [onde residem]?” Durante tantos anos o disse que um dia acabaram a “conversar a sério”.

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Maria Emília percebeu que havia espaço para mais uma gelataria artesanal no Porto, foi a Itália fazer uma formação e concretizou a sua ideia, nascida também de um evidente gosto pelos gelados. Percebeu, além do mais, que “por mais gelatarias que houvesse aqui, não havia casas como em Itália”, onde provou “nuvens de sabor, gelados suaves e cremosos”. Por exemplo, recorda, “o gelado de manga parecia uma polpa”. A manga é um dos sabores disponíveis quando visitamos a La Copa, juntamente com maracujá, amora, limão, banana, tangerina, melão, limão, menta a comporem as opções de fruta; depois, há iogurte com Nestum, bolacha Maria, Ferrero Rocher, cheesecake, chiclete — e os tradicionais chocolate, baunilha e morango, a tríade incontornável; se tem dúvidas, não se preocupe, Manuela Neves, também ela vinda da Sincelo, dar-lhe-á pequenas colheres de prova.

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Poderíamos ter encontrado mirtilo, creme de avelã, pistácio, noz ou até o Monster, uma bebida energética que resulta num gelado muito fresco. “Não temos sempre os mesmos sabores, vamos alternando”, explica Maria Emília que, contudo, admite não ter como prioridade a criação de “sabores muito radicais”. “Um sabor radical está para a gelataria como os vestidos mais radicais estão para os desfiles”, compara, “as pessoas reparam, sabem o nome, mas não têm saída”. Por exemplo, no Canadá, em 1997, Maria Emília provou um gelado de melão com presunto — “lá também é uma entrada muito popular” —, achou óptimo: “Já fizemos, não há muita gente a aderir, é muito diferente dos outros”.

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“Não quero fechar a porta a novidades, mas não vou tirar oportunidade a outros clientes”, explica Maria Emília. Isto significa que La Copa terá sempre os sabores mais procurados, entre os 21 que todos os dias oferece. Sempre frescos, feitos de manhã e, de preferência, acabados pela noite. A fruta da época será sempre uma prioridade, em gelados com a maior percentagem de fruta possível — os de chocolate têm 70% de cacau, sublinha. Sendo este um negócio sazonal, o La Copa tem produtos pensados para resistirem aos meses mais frios, como os crepes, as panquecas e os gaufres ou o chocolate quente. E Maria Emília já pensa em alargar a oferta, com mais produtos à volta do café e outras bebidas quentes.

Por enquanto, os gelados estão a viver a sua época áurea, mas já há algo na La Copa que é talvez inusitado numa gelataria. Os cocktails de fim-de-semana, em duas versões: Amore Mio (champanhe e gelado de laranja) e Porto (vinho do Porto e gelado de noz).

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