Românticos precisam-se

O mundo seria um lugar melhor com mais desses românticos sem vergonha das suas convicções, nem medo de correr riscos ou de lutar por causas difíceis

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Honey Pie!/ Flickr

Durante o mundial de futebol um amigo surpreendeu-me com a ideia idiota de que apostava dinheiro contra a Selecção Nacional para mitigar a tristeza de uma eventual derrota. Apesar de se reconhecer algum racional lógico, fica uma leve sensação de traição motivada pelo simples medo de sofrer.

Em várias outras situações do dia-a-dia nos deparamos com posturas que reflectem o nosso medo de falhar e, especialmente, de falhar à vista da sociedade a que cada vez mais estamos expostos ao minuto e a cada passo que damos. Com isto, se antigamente se valorizavam os sentimentos nobres de honra, integridade e consistência de princípios e ideias, hoje a prioridade é, a todo o custo, evitar as desilusões ou ser visto como derrotado.

Tal como no futebol nos escusamos a apoiar incondicionalmente um lado (criticando e apontando defeitos) para não sermos apanhados desprotegidos do lado dos vencidos, existe uma tendência para, em tudo o que exige opinião ou declaração de princípios, querermos pôr um pé de cada lado da trincheira e, assim, não tomar uma posição sólida sobre nada. Do mesmo modo que, à medida que crescemos e deixamos de ser crianças, deixa também de ser óbvio o que é o bem ou o mal – pelo motivo único de que nos convém alguma relatividade quando a vida está cheia de escolhas difíceis.

Morremos de medo da rejeição. Temos medo de sair derrotados no futebol, num confronto de ideias ou num casamento e, por reacção, vamo-nos tornando mais maleáveis, escorregadios e imprevisíveis. Relativizamos o certo e o errado, metemos o nosso dinheiro na equipa adversária, criticamos todas a opções disponíveis ou traímos os nossos cônjuges. Repetidamente vamos dando uma no cravo e outra na ferradura.

Talvez seja impreparação emocional de quem vive nestes tempos do imediatismo e das relações digitais. Tornámo-nos uma sociedade de pessoas cada vez mais esquivas, calculistas e superficiais, com menos identidade própria e menos coragem. Fugimos a todo o custo de valores absolutos com o racionalismo de evitar colocar todos os ovos no mesmo cesto, como se os tempos não estivessem para idealismos românticos.

Mas esse romantismo faz falta ao mundo e o mundo seria um lugar melhor com mais desses românticos sem vergonha das suas convicções, nem medo de correr riscos ou de lutar por causas difíceis. Porque a sociedade perde quando há vergonha nas palavras fé, honra ou princípios e, infelizmente, hoje a sociedade rotula os optimistas de tontos, os que vingam de vigaristas e os de princípios de interesseiros.

Felizmente, enquanto uma maioria vai vivendo a vida de outros, eternamente adiando os seus sonhos, em empregos que não os entusiasmam e rotinas que os embrutecem, existem exemplos de românticos que, com paixão, arriscam viver vidas diferentes em busca daquilo em que acreditam, daquilo com que sonham ou lutando por um mundo melhor. É este o tipo de gente que cria inovação, disrupção e evolução, e é por isso que o mundo precisa tanto deles.

O mundo precisa de mais destes heróis românticos e de gente sem medo de correr riscos.

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