Os sucessores de Herman van Rompuy e Catherine Ashton

O novo Alto Representante vai assumir a posição em tempos muito complicados. A Ucrânia implode, as relações com a Rússia complicam-se e o Médio Oriente continua em fogo, do conflito em Gaza ao ISIS no Iraque

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European External Action Service/Flickr

A escolha dos novos líderes europeus não se esgotou com a eleição de Jean-Claude Juncker para novo Presidente da Comissão Europeia e de Martin Schulz para continuar à frente do Parlamento Europeu. Discute-se agora a selecção do novo Presidente do Conselho Europeu e do novo Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança (“Alto Representante”).

O Conselho Europeu define a direcção e prioridades políticas da União, não tendo intervenção directa no processo legislativo. Tem nos últimos anos assumido um papel relevante na definição da sua estratégia de combate à crise económica e financeira. Nele encontram-se representados os Estados, ao nível de Chefe de Estado (no caso da França) ou de Governo, e têm também assento o Presidente da Comissão Europeia e o Alto Representante.

O Presidente do Conselho Europeu preside às reuniões do Conselho Europeu. É uma posição que surgiu em 2009 (antes, tal como no Conselho da União Europeia, as presidências eram rotativas). Herman van Rompuy, que agora se despede, foi o primeiro a assumir este cargo. Escolhido pelo seu perfil “low-key” e capacidade para conseguir compromissos, o ex-Primeiro Ministro belga não se tornou um nome conhecido do grande público. Mas também não se concretizaram os medos dos Estados Membros mais pequenos de que a posição apenas servisse para beneficiar os grandes Estados.

O novo Presidente do Conselho Europeu entra em cena numa altura em que a crise económica e financeira não foi ainda ultrapassada, e em que se discute o próprio futuro institucional da União Europeia. Terá hipótese de continuar a definir o espaço e a influência do Presidente do Conselho Europeu na arquitectura institucional europeia, através da forma como exerça os seus poderes. Para isto, muito influirão a sua proactividade, independência e capacidade de conseguir compromissos, sem esquecer, naturalmente, o seu carisma e as suas ideias.

O novo Alto Representante vai assumir a posição em tempos muito complicados. A Ucrânia implode, as relações com a Rússia complicam-se e o Médio Oriente continua em fogo, do conflito em Gaza ao ISIS no Iraque. A Primavera Árabe ainda não deu origem a regimes totalmente estáveis. Quanto aos Estados Unidos, a UE vai ter de discutir quer a relação ao nível da segurança, quer ao nível da negociação do Tratado de Comércio Livre. Para não falar na relação com a China, sempre difícil de gerir, ou com o Brasil ou com a Índia. E tudo o mais que não cabe nesta crónica.

Catherine Ashton, quando entrou, não tinha qualquer experiência nesta área. Tem sido discreta na sua actuação, que tem sido objecto de muitas críticas. Seria importante escolher alguém com experiência, neste momento tão difícil. Alguém que consiga, o mais possível, que a União Europeia comece, cada vez mais, a falar com uma voz quanto aos grandes temas com que se debate a comunidade internacional.

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