Iphone 6: “think different”?

Quero dizer, serei só eu a achar que depois de um iPhone 5 que não foi mais do que a continuidade de um 4 (esse sim, inovador), estava na hora de uma evolução com um aroma mais disruptivo?

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Brendan McDermid/Reuters

Com a chegada do Verão, cumpre-se uma nova tradição: apreender sobre o que é que a rumorologia diz do novo iPhone e quando é o Dia do Santo Graal da Apple, com as filas que todos conhecemos e que fazem lembrar uma descida ao Algarve nos anos 80 – mas a pé. E o que é que se pode ler sobre isso nos sites da especialidade?

Teremos um novo iPhone maior do que a versão actual, com mais definição e maior rapidez. Terá algumas novas funcionalidades e um design parecido com o actual, mas com curvas mais arredondadas. Pesará um pouco menos e será também mais fino. Deve chegar no fim de Setembro e pronto, é isto.

Só isto?

Quero dizer, serei só eu a achar que depois de um iPhone 5 que não foi mais do que a continuidade de um 4 (esse sim, inovador), estava na hora de uma evolução com um aroma mais disruptivo? Não dependerá o futuro da própria Apple deste dispositivo, agora que o iPod está em pura maturidade? Poderá o iPad continuar a dominar o panorama se o iPhone 6 não continuar a a ter um lugar de destaque o mercado dos dispositivos móveis? Como sobreviveria o desenvolvimento ao iOS8+ a partir daqui?

A Apple de hoje já não sobrevive só com o nicho de seguidores e fãs, por muito religiosos que sejam para com a marca. A empresa precisa de continuar a ser desejada pelo mercado do grande consumo como um “gadget” de quase-luxo a que todos querem aceder, ao mesmo tempo que mantém altas as barreiras à saída com o seu sistema operativo inegavelmente simples, seguro e intuitivo. Desta forma, mantém dentro do radar uma parte importante dos clientes actuais e continua a tentar os que ainda não migraram para dentro do seu perímetro.

Para continuar a ser desejada, a Apple não pode correr o risco de ser sempre igual. “Think Different”, lembram-se? É verdade que mudar a qualquer custo pode ser mais arriscado ainda, mas ficar à defesa eternamente nunca foi uma boa estratégia de longo prazo.

O que a Apple precisa é de nos surpreender outra vez. É dessa Apple que temos saudades. De uma marca que surpreende, recorrendo a um modelo simples, limpo, intuitivo, eficaz, mas diferente. Diferente do que era antes, incorporando novas necessidades da maior importância que nós nem sabíamos precisar.

Porque não um sistema de reconhecimento de voz multilíngua que aprenda como o nosso tom e forma de falar, sem termos de parecer robots? Que permita que possamos interagir a conduzir e escreva como nós, com “smiles” e asteriscos, entendendo-nos em tempo real e transcrevendo o que outros escrevem para voz também — e se possível a voz deles?

E porque não resolver o maior problema actual? Se solucionassem o problema da bateria de uma vez por todas, o cenário era óbvio: os fãs rejubilavam, os consumidores agradeciam, os concorrentes copiavam — e todos ganhavam. Inventem baterias de plástico, por indução ou outra forma qualquer: mas inventem. Deixávamos de ter o problema de hoje: telefones que parecem fixos — têm de estar ligados a alguma tomada toda a noite e a maior parte do dia.

Às vezes o consumidor não precisa de muito para ser feliz.

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