Monchique dá 500 euros por cada bebé e vende lotes, a preço simbólico, para atrair jovens

A mensalidade da creche custa 80 euros/mês, o acesso às piscinas é gratuito e quem quiser reabilitar casas velhas está isento de taxas — eis alguns dos atractivos para viver no interior algarvio

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Michaela Rehle/Reuters

O concelho de Monchique perdeu, nos últimos 30 anos, metade da população. Por isso, não espanta a alegria do presidente da câmara, Rui André, sempre que tem notícias em sentido contrário. “Quando nasce uma criança, fazemos uma festa”, diz. Para inverter a curva demográfica instituiu há cerca de dois anos um cheque-bebé, no valor de 500 euros. Embora reconheça que o valor não é mais do que “um rebuçado” para atrair jovens casais, o resultado, conjugado com outras medidas de apoio social, tem sido “um sucesso”.

Em 2013, registaram-se 36 nascimentos — quase o triplo da média dos anos anteriores. “Uma maravilha”, comenta. Mas, por outro lado, o autarca do PSD crítica o Governo pela “falta de sensibilidade em compreender os problemas do interior”. O tribunal desta localidade é um dos que estão na lista do programa da reforma da Justiça, com a indicação de que irá ser encerrado. Na tentativa de recuperar parte da população perdida a favor de Portimão e de outras cidades, a câmara abriu recentemente inscrições para a venda de 15 lotes, por um “preço simbólico”, com projecto aprovado, em regime de autoconstrução.

A comunidade de estrangeiros residentes, neste concelho de 400 quilómetros quadrados, representa cerca de 20% de uma população que pouco ultrapassa os seis mil habitantes. O complexo de piscinas municipais, cobertas e descobertas, é de acesso gratuito. A mensalidade da creche tem também um valor social. O custo que a câmara paga é de 350 euros mensais por aluno e só cobra 80 euros. “A nossa grande aposta é atrair casais jovens”, sublinha. A câmara municipal e a Santa Casa da Misericórdia, de que Rui André é também vice-provedor, são as duas principais entidades empregadoras do concelho. No pacote dos incentivos ao repovoamento inclui-se também a taxa de IMI, de valor mínimo. Por outro lado, o novo regulamento municipal, ainda em fase de elaboração, isenta do pagamento de taxas de licenciamento os jovens casais que pretendam reabilitar os antigos edifícios da vila.

O número de visitantes, com as campanhas de turismo da natureza, tem vindo a registar um crescimento progressivo. No Verão passado, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, ajudou à promoção dessa zona. Em vez de escolher, como fazem os seus conterrâneos endinheirados, um luxuoso hotel à beira-mar para passar férias, optou por uma das 17 casas de turismo rural de Monchique. “São inúmeros os britânicos que vêm à procura do restaurante onde Cameron esteve, tirando fotos, escolhem a mesma mesa e exigem o mesmo prato”, conta Rui André, revelando o golpe publicitário que, na altura, usou para promover a região. A recepção oficial ao chefe do Governo britânico, em lugar do clássico vinho do Porto, foi celebrada com um brinde de aguardente de medronho. As imagens correram pelas redes sociais, contribuindo para a produção desta bebida tradicional. Só no concelho de Monchique há 75 destilarias, à escala familiar.

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