Quereremos os drones da Google a voar no nosso jardim?

Drones no ar e realidade aumentada nos telemóveis. Reconhecimento facial por parte dos "smartphones" e redes sociais? Quereremos mesmo isto?

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Wolfgang Rattay/Reuters

Em nome de melhores serviços, mais rapidez e preços mais baixos, as marcas e organizações planeiam saltos tecnológicos que impressionam tanto, como assustam. Drones no ar e realidade aumentada nos telemóveis. Reconhecimento facial por parte dos "smartphones" e redes sociais, "tracking" pelas marcas das nossas presenças nos seus "touchpoints", "cookies" mais evoluídos nos nossos computadores. Quereremos mesmo isto?

Duvido, muito sinceramente. Nos contactos que mantenho com a rede de "crowdsourcing" com que trabalho (mais de duas mil pessoas espalhadas por dezenas de países) os sinais são evidentes: as preocupações são maiores do que o entusiasmo, os medos superam a vontade de evoluir. Um estudo da Pew Reserach Center (Abril 2014) demonstra o mesmo: as pessoas não estão preparadas para os avanços tecnológicos que se avizinham.

Se há algumas décadas os medos tinham a ver com a utilização errada por parte de outros países relativamente à tecnologia – como ainda hoje acontece no nuclear – agora o medo passou a ser de nós próprios: medo de invasão da nossa privacidade por parte dos nossos países, dos nossos governos, das nossas empresas, dos nossos amigos, das nossas famílias. Medo dos nossos. É um medo novo e que interessa considerar.

Recorde-se que Amazon, Facebook, Google e outras empresas planeiam um mundo com drones energeticamente auto sustentáveis a distribuir Internet por todo o planeta, tecido humano para consumo alimentar a ser criado a partir do desenvolvimento muscular artificial e realidade aumentada a permitir que smartphones detectem objectos, lugares e pessoas através de uma fotografia, fornecendo toda a informação existente online sobre as mesmas em tempo real. Há outras que planeiam a possibilidade de alterações de ADN pelos pais na tentativa de potenciarem a criação de crianças mais saudáveis e inteligentes. Parece óbvio que estas empresas o fazem porque acreditam que os consumidores irão valorizar estas evoluções, pois só dessa forma as mesmas serão economicamente sustentáveis. Mas a verdade é que a maioria das pessoas não as querem, hoje.

O que não quer dizer que não as venham a querer no futuro: uma coisa é preferir que estas tecnologias não existam: outra é não as utilizar, uma vez existindo. Uma coisa é não querer um drone da Google a passear em cima do nosso jardim. Outra é negar-se a usar a Internet que ele disponibiliza, uma vez por lá.

Pela primeira vez, os avanços tecnológicos estão a surgir com mais rapidez do que a capacidade de absorção dos mesmos pelos consumidores. Enormes saltos de tecnologia com importantes reflexos nos hábitos de consumo começam a tomar lugar dentro da mesma geração, obrigando as empresas a desenvolver novas competências nas áreas da comunicação e educação.

Por outro lado, consumidores mais informados e exigentes podem ajudar - enquanto "prosumers" - a desenhar o perímetro de aplicação das inovações, evitando as desvantagens e controlando os riscos, sem limitar a evolução que sabemos necessária e desejável. Porque não queremos drones a fazer sombra ao nosso churrasco.

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