Host: Paulo Cunha e Silva

Com o Optimus Primavera Sound a caminho, fomos conhecer os vários portos dentro do Porto. O roteiro do vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, vai das "trips" das tripas até ao império do design vintage

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Renato Cruz Santos

Uma rua

Rua das Flores. A mais bonita do Porto, apesar de as últimas intervenções com vista à sua pedonalização poderem ser discutíveis. É uma rua que liga a expectativa de quem chega à Estação de São Bento ao pedaço de cidade em que o Douro se adivinha em todo os seu esplendor. Além disso, é um corredor barroco de múltiplas morfologias urbanas e comércio tradicional.

Uma loja

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Passos Manuel Paulo Pimenta

Pedras & Pêssegos. O Império das cadeiras e do design vintage. Um conjunto de móveis a utilizar com alto "drive" internacional. Vale a pena pedir ao Jaime Garcia, o dono, que nos faça uma visita guiada pelo armazém onde o tempo recente se acumula em múltiplas camadas.

Um petisco

Tripas, sempre. A possibilidade de comer a alma do Porto num prato branco e discreto. Já disse que o Porto era barroco até às entranhas. As tripas são uma estrutura autorreplicante, com uma organização semelhante à prega barroca. As tripas são uma "trip". E bem melhor que os "callos" madrilenos e as "tripe" romanas.

Um café

O Piolho. O café em que me tornei médico continua a acolher todo o tipo de hordas com um simpatia preclara. Estudantes, forasteiros e curiosos são sempre bem-vindos a este espaço mítico. E estamos no centro do mundo, com a cidade à mão de semear.

Um bar/uma discoteca

O Passos Manuel e os Maus Hábitos. Estão um pouco descentrados relativamente à cintura mais apertada da "movida". Ficam um em frente ao outro. O primeiro é um cinema que lembra a leitaria da "Laranja Mecânica" nos seus camarotes semi-privados. Tem uma óptima programação de cinema e o Becas põe toda a gente dançar. O outro fica num quinto andar de uma garagem vertical, bonita de morrer. Tem exposições, copos, concertos de música electrónica, e o Daniel Pires faz jantares por encomenda. Dança-se à hora do almoço.

Um segredo

O coração de D. Pedro guardado na Igreja da Lapa. Os museus da Universidade do Porto com as suas fantásticas colecções de zoologia. A maior colecção de jóias privadas do país no museu Marta Ortigão de Sampaio. O Roteiro da Viagem de Vasco da Gama, livro património mundial, guardado no Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Uma fuga

A vista da torre da Câmara Municipal do Porto, que se atinge através de um elevador muito retrô. É uma fuga para cima, mas vale a pena. A cidade vem ter connosco.

Um "guilty pleasure"

O Pernil do Antunes. Deve ser um bomba colesterólica, mas é tão bom! A carne desfaz-se no exacto momento em que atravessa a comissura labial e cai na boca. E todos os dias há pecado à nossa espera. Mas também o Bacalhau da Dilma no Cafeína, outra bomba colesterólica, que a mais mais famosa Presidenta do Planeta tinha à sua espera, quando fez escala no Porto. Além disso, o Cafeína continua a ser o restaurante mais bonito da cidade ao fim de tantos anos, graças à teimosia criativa do Vasco Mourão.

Obrigatório

Os clássicos. Subir à torre dos Clérigos e confirmar a forma como o eixo da igreja invade o corpo da cidade. Serralves: jardins, casa e exposições e uma das obras emblemáticas da arquitectura de Siza Vieira na cidade, o Museu de Arte Contemporânea. A Casa da Música, com a vertiginosa arquitectura de Rem Koolhas e as cadeiras deslizantes do grande auditório com o orgão barroco disfuncional, a sala VIP com os azulejos Viúva Lamego e os skaters nas ondas do travertino exterior. O Parque da Cidade na sua surpreendente relação com o mar. A talha barroca da Igreja de S. Francisco, o ouro mais flamejante da cidade que só rivaliza com o ouro do Salão Árabe do contíguo Palácio da Bolsa. E toda a atmosfera que se liberta do grande presépio sobre o rio que é a Ribeira.

"After-hours"

Só num submarino.

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