A melhor banda do mundo

O título desta crónica poderá ser (ainda) um pequeno exagero. Mas, perante os factos e a consistência desta rapaziada, parece-me plausível dizer que os Linda Martini são a melhor banda portuguesa da actualidade. E daqui até ao estrelato é um pulinho

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Nuno Ferreira Santos

Houve quem dissesse que os Linda Martini tiveram o melhor concerto do Optimus Alive 2013. E eu concordei com eles. O Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, acredita que os Linda Martini sucederão à sua banda no rock nacional. E eu também concordo com ele. À saída do Lux, há dias, após o concerto dos Linda Martini, ouvi alguém dizer que “estes gajos são os maiores”. E sabem que mais? Também concordo.

Sempre que vejo um concerto dos Linda Martini, fico com a ideia de que lhes é fisiologicamente impossível ter uma má performance. Podiam tentar, esforçar-se até, e haveriam sempre de falhar. Ficamos sempre com a ideia de que estamos a ser "voyeur", que nos metemos a espreitar por entre os arbustos e encontrámos um grupo de amigos a ter o maior dos prazeres enquanto toca. Na noite do passado dia 13, como sempre, a honestidade emocional estava lá. Tanto se podia observar nas gargalhadas rasgadas do Geraldes como nas lágrimas da Cláudia.

Bem sei, bem sei. Muitos ainda não os conhecem. Nesse caso, tomo a liberdade de vo-los apresentar: os Linda Martini são uma rapaziada insuspeita, quatro graúdos ainda armados em miúdos, com o ar de quem não parte um prato mas afinal é capaz de partir a fábrica inteira da Vista Alegre. André Henriques, à guitarra e à voz, grita ideias de génio. Pedro Geraldes, esse, transporta a genialidade para as seis cordas que traz ao peito. Cláudia Guerreiro é, toda ela, em comunhão com o seu baixo, um furacão em miniatura. E depois há o Hélio Morais, que faz as mulheres suspirar de desejos enquanto os homens extasiam com as suas capacidades sobrehumanas de baterista.

A música deste pessoal é uma liberdade em fúria, têm por certo os instrumentos ligados à alma. E as letras são de uma franqueza tal que poderíamos estar a lê-las num livro do Bukowski. Essa genuinidade pode também ser observada no uso consciente e nada gratuito do palavrão. A asneira em Linda Martini não ofende, oferece antes outra intensidade às ideias. É esta malta que comenta: “faltou-te sempre uma razão para ver o mundo e eles não te dizem nada […], ligavas sempre a televisão num gesto vão como quem agarra a escada, e eles têm estrelas no nariz mas eles não te dizem nada”. É esta malta que se atreve a mandar às urtigas, de forma mordaz, as instituições: “que se foda o panteão, dou os ossos a um cão, que me roa a salivar”. Há também os trocadilhos (“a mulher-a-dias faz dias que não vem, perdeu a conta às horas e meses que um dia tem”) e o sofrimento pueril (“o chão que pisas sou eu, o nosso amor morreu, quem o matou fui eu”). Uma coisa é certa: palavras destas poderiam estar em páginas, em livros. Eles preferem gritá-las. Se for com o público, em uníssono, tanto melhor.

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O concerto no Lux teve uma convidada especial

A energia depositada nos espectáculos ao vivo dos Linda Martini é de tal ordem que fico sempre com a ideia de que cada um dos fãs é transportado para o meio do palco, para ali ficar a pular e a berrar e a dançar e a cantar entre os quatro elementos da banda. A sós com os mestres. A prova disso é que encheram o Lux em duas noites seguidas. Mil e trezentas pessoas, tal e qual. E assim sabe bem ficar com os ouvidos a tinir.

O título desta crónica poderá ser (ainda) um pequeno exagero. Mas, perante os factos e a consistência desta rapaziada, parece-me plausível dizer que os Linda Martini são a melhor banda portuguesa da actualidade. E daqui até ao estrelato é um pulinho.

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