Ela tocou piano na Praça Taksim contra um "regime político corrupto"

"Temos que correr com este sistema que há muito devia ter caído de podre", comenta a pianista Elif Burgaz, uma das muitas pessoas que têm ocupado a praça Taksim, em Istambul

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Pianista de 33 anos, solteira e amante da natureza. Odeia política, mas um “regime político corrupto” forçou-a a estar actualizada. Elif Burgaz é uma das muitas pessoas que têm invadido a praça Taksim, em Istambul, insurgindo-se contra o “corrupto poder do radical (Recep Tayyip) Erdogan”. Quer que a 30 de Março, nas eleições autárquicas, os turcos dêem um “cartão vermelho” ao Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002.

“Temos que ganhar Istambul, dar um forte sinal de que este regime fascista não pode continuar. É um governo perigoso. Temos que correr com este sistema que há muito devia ter caído de podre. Infelizmente, não há outros partidos fortes. São fracos e passivos. Quando os protestos começaram, em Maio, tiveram uma oportunidade excelente para defender o seu povo. Calaram-se. Não foram suficientemente assertivos. E isso deixou as pessoas confusas. Não sabem em quem confiar”, lamenta.

Elif Burgaz, que inspirou milhares ao piano na praça Taksim (já lá vamos), recorda que há várias décadas Ataturk fez da Turquia um país “muçulmano moderado” e lamenta que agora a nação esteja a “regredir socialmente, de forma vergonhosa”.

“Querem as mulheres de cabelo tapado. Até dizem que o ballet é algo vergonhoso. Condicionam o acesso à internet. Manipulam os media. Quando os protestos começaram, com repressão imprópria e violenta da polícia, causando mortos, o principal canal público passava um documentário sobre pinguins. Repetiu-se a atitude no dia seguinte. O país tardou a saber o que se passava em Istambul”, recorda.

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Elif Burgaz inspirou milhares ao piano na praça Taksim

A pianista lamenta a “informação manipulada” que faz com que boa parte da população não saiba o que se passa neste país “demasiado grande”: “Na altura, fomos tratados como um mero bando de arruaceiros. Apelidados de idiotas. Só em Istambul mataram seis pessoas e não houve uma palavra de lamento ou desculpas”.

Elif é “pacífica e moderada”, mas afiança que a situação actual a está a tornar mais convicta do que nunca das suas certezas. “Não gosto de confusões e abomino a política, no entanto não posso ficar indiferente ao meu país. A polícia prende sem critério, já levei com gás pimenta, tive medo e fiquei sem ver. No dia seguinte, voltei. Prevenida com máscara antigás. Há excesso de violência para intimidar as pessoas, mas não me demoverão”, garante.

Durante os protestos de 2013, um alemão instalou um piano que dava alento à Praça Taksim. “Não resisti e pedi para tocar. Queria dar o melhor de mim à história. Actuei para milhares de pessoas. Senti-me a voar. Olhava as estrelas e no meu horizonte surgiu uma enorme bandeira turca a dançar no céu. Senti que todos os muitos milhares éramos apenas um”.

“Todas as diferenças se esbateram. E é com esse espírito que queremos mudar a Turquia. Para um país livre, democrático, desenvolvido”. Elif abandona o ar sério e comprometido que não combina com as suas estéticas feições. Sorri e deixa uma garantia: não abandonará um melhor futuro para a sua nação.

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