Melhores pessoas dão melhores jogadores de râguebi

O que faz a Nova Zelândia ganhar tanto e de forma tão consistente, contra adversários tão poderosos, sendo actualmente a equipa mais bem-sucedida do desporto profissional?

24 de Novembro de 2013, Aviva Stadium, Dublin. A Irlanda recebe os All Blacks no último jogo da janela internacional de Novembro. Em caso de vitória a selecção neozelandesa atingiria (mais) um feito histórico no desporto profissional – um ano 100% vitorioso.

A pressão era enorme. Aos 79 minutos de jogo a Irlanda, depois de um jogo soberbo, está com a posse de bola, bem dentro do meio campo All Black e a ganhar por 22-17. Tudo se parece encaminhar para a primeira vitória de sempre da Irlanda frente à Nova Zelândia.

A menos de 30 segundos dos 80 minutos a mais de 70 metros da linha de ensaio adversária, os All Blacks recuperam, através de uma falta, a posse de bola. O que fazem? Rapidamente começam a jogar da única forma em que acreditam – um jogo dinâmico, com risco, jogado à largura do campo, e com um apoio próximo da perfeição. Resultado? Dois minutos depois marcam o ensaio que empata o jogo e que, depois de convertido lhes garante a vitória final e o pleno de vitórias em 2013.

O que faz, então, esta equipa ganhar tanto e de forma tão consistente, contra adversários tão poderosos, sendo actualmente a equipa mais bem-sucedida do desporto profissional (com uma percentagem de vitórias de cerca de 80% dos jogos)?

Há várias razões mas as qualidades humanas dos jogadores que chegam a All Blacks são um ponto que os distingue e que, sobre enorme pressão os faz superar as dificuldades mais vezes que os adversários. Em 2004, Sir Graham Henry, entrou para o leme de uma equipa que atravessava uma crise profunda, que incluía um mau desempenho no Mundial 2003.

Com ele veio um lema que revolucionou a equipa: “Better people give better All Blacks”. Graham Henry acreditava que não bastava ter os jogadores com as melhores qualidades técnicas, físicas ou tácticas.

Para que os All Blacks voltassem a estar à altura da sua história precisava de jogadores com grandes qualidades humanas. Que estivessem dispostos a dar o seu contributo na construção de uma camisola que, mais do que pelas individualidades, valesse e fosse temida pelo colectivo que representava, independentemente dos jogadores em campo.

Graham Henry, Wayne Smith e Steve Hansen construíram uma equipa baseada em conceitos como “humildade”, “fazer sempre mais” e “deixar a camisola num lugar melhor”. Este trio de treinadores acreditou que estes conceitos, tal como o passe, a placagem ou a formação-ordenada, também se trabalham e que, quanto mais refinados e apurados forem, mais sólido será o colectivo.

E todos - treinadores, jogadores e staff -, acreditam visceralmente que ninguém está acima desse colectivo. Ninguém está acima da camisola dos All Blacks e do seu significado. Pelo caminho sofreram algumas derrotas dolorosas. Mas, em 2013, passados quase 10 anos atingiram o que nenhuma outra equipa havia atingido – um ano só com vitórias.

Mas, não nos podemos enganar. Esse não era o objectivo. Foi, isso sim, consequência de uma cultura onde, dia a dia, todos dão o máximo para estarem à altura da camisola que representam. É isto que vai fazendo a diferença! Saibamos aproveitar o exemplo.

Nota: Acerca deste assunto, recomendo o livro “Legacy – 15 Lessons in Leadership” de James Kerr

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