A síndrome do mau café

Gosto de me rodear de pessoas que fazem café mediano. O bom habitua-nos mal. O mau, nem vale a pena continuar. O excelente faz-nos fanáticos num ápice

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Reuters

Mau café faz-me perder espermatozóides. Sempre que bebo um café realmente mau sinto que um filho, ou pelo menos a possibilidade de vir a ter um, me é tirada. Como não ter ido votar uma só vez porque dormi que nem um urso me restringe de imaginar sequer em cortar um dia o cabelo direitinho para poder ser presidente.

É minimamente parecido com ganhar taquicardia eterna quando um pacote de cereais decide sair da última prateleira, num supermercado onde tudo parecia estar normal, com o puro objectivo de te pregar o maior susto de sempre. Estavas a meio da tua função solitária e um quê de hipnótica que é ir às compras e um objecto do dia-a-dia, inofensivo — e para muitos natureza morta —, torna-se o maior responsável pelas contas dum médico que até lá só curava velhos e gente com genes podres. Taquicardia “equals” à Expectativa De Um Bom Café Tornado Mau (E.D.U.B.C.T.M). A E.D.U.B.C.T.M faz-me sofrer. Deixa-me rancoroso. Faz com que o cigarro a seguir fique com fumo impedido com o meu hálito, que é só poluição e radioactividade castanha nesse momento.

Habituado a toda a dormência de boca e de espírito e de traqueia morro um bocadinho por ter pago por borrão com aroma a cafeína. O feito em casa já nem tanto. “Esta porcaria está com um aspecto...” e pronto. Agora, abanar a cauda e achar que a vida é inacreditável nos segundos antes de a chávena dar uma com a boca para depois nos sair aquilo?! Choro. Ligo para a minha mãe mais vezes do que o normal. Sinto-me vítima de violação doméstica e tudo porque aquela medicina me tornou num ser diferente. Deixa-me depressivo e sem opinião própria.

Por isso gosto de me rodear de pessoas que fazem café mediano. O bom habitua-nos mal. O mau, nem vale a pena continuar. O excelente faz-nos fanáticos num ápice, sem termos percebido muito bem o que se passou e prontos a entrar num avião com uma cinta engraçada só para mais um gole daquele Café do Meio-dia. É raro encontrar um excelente, daí querer pessoas neutras a fazer-mo. Racionem-me o gosto, se faz favor. Tornem-me num viciado em café da classe média, num burguês de balcão com no mínimo a chávena o mais quente possível.

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