Das despedidas nos aeroportos

Os aeroportos são locais onde podemos fazer tábua rasa e começar um novo capítulo, são locais que nos apertam o coração, que por vezes nos aliviam o sofrimento

Foto
nicola bigi and his little world / Flickr

Há algo que me fascina nos aeroportos. Além do mistério com que olho para os pilotos — quase sempre bonitos e altos —, sempre me fascinou observar os outros, enquanto esperam pela ida, enquanto se despedem. Talvez o faça para não ser tao solitário das vezes que viajo sozinha.

A quantidade de diferentes línguas, dos diferentes rostos, dos diferentes cantos também me fascina. Adoro descobrir um aeroporto diferente, maior ou menor, descobrir os cafés que tem, que revistas e jornais e comparar preços. Sinto um nervoso quando me aproximo do ecrã dos voos e, além de olhar para o meu só para confirmar o portão e hora, gosto de percorrer a lista dos outros destinos e imaginar quem irá para lá e como seria lá chegar. Quem estará à espera daquelas pessoas? O que fazem da vida? Estarão tão tristes como eu por partir?

Mas há sempre algo de nostálgico nos aeroportos que me faz querer lá voltar. Sou uma dualidade de tristezas e alegrias quando piso aquele chão, imaginando quem já recebi de braços abertos num aeroporto, em lágrimas, sorrisos ou de papel na mão. Mas mais importante de tudo, quem já me recebeu ou as vezes que ninguém me esperava a não ser um amontoado de pessoas desconhecidas, a correr para apanhar o próximo metro. Percorro as memórias das vezes que me apertava o coração ao despedir-me de um local e de quem visitei.

É isso que me fascina nos aeroportos: não são apenas locais de partida e chegada, unindo continentes. São locais onde podemos fazer tábua rasa e começar um novo capítulo, são locais que nos apertam o coração, que por vezes nos aliviam o sofrimento, são segunda ou terceira casa de muitas pessoas que fazem das viagens as suas vidas, são lugares de conversas sérias ou tão banais como noutro sítio qualquer e o último local onde deixamos um pouco de nós antes de partir, felizes ou não.

E são as despedidas que me marcam, apesar de não ter jeito nenhum para algo tão simples mas ao mesmo tempo mais importante. Existe o “Vemo-nos por aí”, o “Até já!” ou as despedidas silenciosas onde não há ninguém para nos ver partir e, quando isso me acontece, são as histórias dos que ali estão a despedir-se que me preenchem e tomo como minhas.

Sugerir correcção
Comentar