A dura realidade dos mercados sentimentais

Já pensaram aquilo que vocês oferecem enquanto par amoroso? E aquilo que procuram? Já pensaram se a imagem que transmitem atrai o tipo de pessoas que procuram? Já perceberam qual o vosso “valor de mercado”?

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Michael Kooren/Reuters

Nestes tempos de crise em que vivemos, ”mercados” é uma palavra forte do nosso quotidiano. Ouvimos falar dos mercados financeiros, dos de exportação, dos do petróleo ou mesmo dos do ouro. Porém, mercado é uma palavra muito genérica que pode ser usada para analisar quase todas as relações humanas. Por exemplo, podemos falar de mercados sentimentais (ou dos relacionamentos amorosos). E a verdade é que as leis que governam os mercados tradicionais também estão presentes nestes mercados inusitados. A procura, a oferta, os custos de oportunidade, os nichos, as variações de valor, as expectativas, são tudo realidades que também estão presentes nas relações amorosas (apercebamo-nos ou não delas).


Já pensaram aquilo que vocês oferecem enquanto par amoroso? E aquilo que procuram? Já pensaram se a imagem que transmitem atrai o tipo de pessoas que procuram? Já pensaram se se movimentam nos espaços onde seja mais provável encontrar o par que desejam? Já pensaram se o par que idealizam existe mesmo e, a existir, se se sentirá atraído por vocês? Já perceberam qual o vosso “valor de mercado”?


Bem sei que os românticos inveterados já estão a praguejar contra esta minha abordagem racionalista duma realidade que deve ser entregue apenas aos caprichos do destino e às inexplicáveis dinâmicas do amor. A verdade, porém, é que as dinâmicas de mercado que aqui saliento existem, queiramos ou não acreditar nelas. Por isso penso que tomar consciência delas e ajustar o nosso comportamento em consonância apenas nos vai ajudar a encontrar o nosso amor. Nunca vamos controlar tudo mas podemos ajudar a sorte a sorrir-nos…


Esta reflexão é de especial importância para quem está só e procura um par. Na maior parte dos casos em que alguém se perpetua só, ansiando por parceiro, a razão principal é uma falta de consciência sobre como actuar neste mercado. Em concreto, ter a noção do que tem para oferecer, quem se pode interessar por si e quem (e onde) deve procurar. Muitas vezes essas pessoas têm uma dificuldade em perceber a imagem que projectam e em saber ajustar as suas expectativas ao mercado.

Tentar encontrar um parceiro de sonho sem saber se esse parceiro se interessará por nós pode bem significar que ele nunca chegue a passar disso, uma mera existência onírica… Quem quiser arranjar um par deve ser pragmático e aumentar as possibilidades de conhecimentos (indo a festas, jantando com amigos, saindo com os colegas de trabalho, participando em actividades várias), produzir-se de acordo com a imagem que quer transmitir (congruente com o tipo de pessoas que deseja atrair) e perceber qual o seu mercado, não perdendo tempo com investidas a alvos fora de alcance. A verdade é que ninguém ganha em ficar à espera que os cinematográficos príncipes encantados apareçam para os resgatar.


Conheço alguns casais felizes que são bem o exemplo de pessoas que se juntaram porque conseguiram perceber o que eram, o que queriam e o que o mercado lhes podia oferecer. Esses casais compreenderam bem o quão mais importante é a sintonia possível e a partilha do que a ambição por um qualquer ideal de beleza ou juventude, ou a busca incessante da perfeição.


A grande mensagem é esta: percebamos as dinâmicas do mercado sentimental e ajustemos o nosso comportamento em consonância. No dia seguinte a termos feito isso, veremos que os príncipes e princesas que interessam podem estar mesmo ao virar da esquina.

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