Amor: Internet pode esbater preconceitos raciais

Estudada a dinâmica entre pessoas de grupos étnicos diferentes num site de encontros, com base nos contactos entre mais de 126 mil utilizadores

Foto
Shaun Best/Reuters

A ideia de “raça”, um conceito ultrapassado, sem qualquer valor biológico, que ganhou importância no século XIX à conta de uma ideia errada do darwinismo, continua a influenciar as relações entre as pessoas, na definição de estratos sociais e no preconceito. Uma equipa norte-americana analisou, a partir do site de encontros OkCupid, os contactos de heterossexuais numa população com asiáticos, brancos, indianos, latino-americanos e negros. E concluiu que os utilizadores escolhem abordar preferencialmente pessoas da mesma cor de pele, mas, quando são contactados por uma pessoa de um dos outros grupos, aventuram-se mais a interagir com utilizadores desse grupo.

O artigo, publicado na edição desta semana da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), defende que as pequenas acções diárias de alguém podem ajudar a erodir, pelo menos temporariamente, os preconceitos raciais de terceiros.

Além de ser uma característica única na forma como causa desentendimentos nos Estados Unidos, a cor da pele tem repercussões que não são comparáveis com outras características de cada indivíduo, defende Kevin Lewis, sociólogo da Universidade da Califórnia, em San Diego, único autor do estudo. “As suas consequências vão desde a estratificação económica até à segregação espacial e à profunda hostilidade interpessoal que tem manchado as relações raciais na América desde a fundação deste país”, lê-se no artigo da PNAS.

Uma das demonstrações deste aspecto da vida nos Estados Unidos é a escolha de parceiros amorosos: “Dois indivíduos têm uma muito maior probabilidade de se casarem, viverem juntos, terem um encontro, ou ‘engatarem-se’ se partilharem o mesmo contexto racial.”

Para tentar compreender melhor qual a situação das dinâmicas entre estes grupos, nos Estados Unidos do século XXI, o investigador foi analisar os contactos feitos entre 126.134 utilizadores do "site" de encontros amorosos OkCupid, entre Outubro e meados de Dezembro de 2012.

Kevin Lewis fez várias restrições na população analisada: só escolheu pessoas solteiras, que viviam nos Estados Unidos e que se identificavam apenas com um dos cinco grupos (asiáticos, brancos, indianos, latino-americanos e negros). Além disso, apenas contaram para a análise aquelas que procuravam relações de curto ou de longo prazo (e não relações sexuais ou amizades por escrito) e que se tinham inscrito no "site" entre 1 de Outubro e 30 de Novembro de 2010. O trabalho não passou por ler o conteúdo das mensagens, apenas avaliou entre quem é que eram enviadas.

Os primeiros resultados mostram que tanto os asiáticos como os brancos, os indianos, os latino-americanos e os negros preferem abordar pessoas com a mesma cor de pele. Outro resultado unânime é que os homens iniciam mais contactos do que as mulheres.

O preconceito tem os seus limites…

Depois, o investigador foi avaliar “a quantidade de novas trocas inter-raciais que um utilizador inicia depois de ter recebido uma mensagem inter-racial”, lê-se no artigo.

Dos 48.378 utilizadores do OkCupid que estavam elegíveis para este segundo estudo, só 3918 é que receberam pelo menos uma mensagem de uma pessoa de outro grupo (durante o período analisado) e contaram para o estudo. Depois, o investigador criou um grupo de controlo (com pessoas que não tinham recebido qualquer mensagem, para poder estabelecer comparações sobre o seu comportamento a seguir). A ideia era ver se o facto de ter recebido uma mensagem influenciava o comportamento no futuro e se o utilizador do site tomava a iniciativa de entrar em contacto com pessoas de outros grupos.

“Enquanto os indivíduos do grupo de controlo iniciaram em média 0,103 novos contactos com indivíduos de outros grupos durante o período seguinte, os indivíduos do grupo de estudo [os 3918 utilizadores] iniciaram, em média, 0,141 contactos com outros grupos, um aumento de 39,7%”, lê-se no artigo.

Lê o texto completo no PÚBLICO 

Sugerir correcção
Comentar