Os zombies atacam: atenção, isto é só um jogo

Pistolas de bolinhas e zombies não combinam? “Operação Doomcry II Zombie Apocalypse Series – Hope” é um jogo temático de airsoft que recria um cenário em que a terra foi invadida

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Peruca, “cicatrizes” e “sangue” q.b. Ana Maia

Na caça aos zombies não há contemplações. As balas são disparadas em várias direcções, há pessoas aos gritos e nós pouco ou nada vemos — ouvimos e arrepiamo-nos. Percorremos lentamente os pavilhões destruídos da Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, em Vila das Aves, dignos de um cenário de filme de terror. O terreno lamaçento está coberto por um manto de entulho e tropeçamos entre telhas e tábuas partidas. Serpenteamos entre enormes buracos e paredes destruídas com a ajuda de laternas, que nos ajudam a descobrir o corpo de um zombie (aparentemente) inerte no chão.

Esta é a segunda edição do "reenactment" de zombies organizado pelo Clube Airsoft da Maia, um evento que junta a paixão pelo airsoft e uma atracção pelo universo zombie. A “Operação Doomcry II Zombie Apocalypse Series – Hope” teve lugar na antiga Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela.

João Mergulhão, conhecido como “Tquilha” neste "filme", é um dos principais entusiastas. Cresceu com os filmes de George Romero, como os clássicos “Night of Living Dead” ou “Day of the Dead”, e segue a rigor todo o figurino, envergando peruca, “cicatrizes” e “sangue” q.b. Desta vez joga sem arma. Está do lado dos zombies. “Quem vai para zombie tem de vir com uma única ideia: sair daqui com dores de barriga de tanto rir”, afirma João, que, neste papel, só pode andar a passo e só precisa de tocar num jogador "vivo" para que este se transforme e se junte ao lado morto da força.

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A transformação demora cinco minutos Ana Maia

Estamos em 2014, seis meses depois de conhecido o primeiro infectado — e o vírus espalhou-se mundialmente. Perto da zona onde tudo começou há um pequeno grupo que faz o reconhecimento das instalações militares onde foram feitas as investigações para a cura. Com poucos mantimentos, armas e munições, o grupo decide arriscar e tentar a salvação da humanidade.

Este é o mote do jogo. Ao contrário de outros filmes e videojogos, aqui não é necessário disparar para a cabeça para matar as criaturas, bastando atirar noutras zonas do corpo. A guardar a fábrica estão sete zombies, num total de 23 participantes, que têm como objectivo dificultar as missões dos sobreviventes e “comer tudo o que tem batimento cardíaco”. Por outro lado, os sobreviventes têm de cumprir os objectivos e atirar no maior número de zombies. Com um único senão: cada arma tem apenas dez balas e para recarregar é necessário completar missões.

"Não posso falar, estou morto"

São 20h e um grupo de “sobreviventes” tenta entrar na fábrica fazendo o menor ruído possível. O lugar é sombrio e as únicas luzes que iluminam o espaço são os “light-sticks” que sinalizam os locais mais perigosos da fábrica. Há ruídos que atravessam os diversos pavilhões e fumo que nos dificulta – ainda mais – a visão.

O primeiro objectivo dos sobreviventes consiste em recuperar algumas das armas retiradas no início do jogo. Seguem perfilados, de arma em punho, preparados para atirar em qualquer criatura que ouse aparecer. Há quem conheça todos os segredos e passagens desta fábrica. Abrem um alçapão e dizem-nos para os seguirmos. Poucos segundos depois, percebemos que estamos a circular nos túneis que atravessam alguns pavilhões. Não fossem as lanternas e não veríamos onde pousamos os pés. 

Com o primeiro passo cumprido e as armas na sua posse, seguem-se outras missões igualmente focadas em recuperar objectos ou pessoas no interior da fábrica e trazê-los de volta à base. Encontramos João Mergulhão caído no chão ("não posso falar, estou morto"), mas não parece muito aborrecido por estar momentaneamente fora do jogo (a transformação demora cinco minutos, ditam as regras). "É uma maneira de sair de casa e fazer algum desporto". Parece fácil, mas os jogadores acabam por percorrer quilómetros para completar as missões.

Depois de recuperadas as armas é tempo de trazer para a base o cientista que tem acesso à cura. No entanto, para “salvar a humanidade”, os sobreviventes têm ainda de encontrar as máscaras de gás que lhes permitem entrar numa sala cheia de fumo e reaver os químicos necessários à cura. Para completar o jogo, os sobreviventes têm de encontrar uma arma anestesiante (e respectivas munições) para capturar os zombies e levá-los à base para serem curados.

No final, nada melhor do que um caldo verde para festejar a "salvação da civilização".

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